Por
Eduard Alcántara
Há
pessoas que dizem hastear a mesma bandeira que a nossa. Há aqueles que dizem
fazê-lo, senão for com a mesma, com uma bandeira semelhante. Nós temos
dificuldades em identificar muitas dessas bandeiras como iguais ou semelhantes
à nossa. Nisto não reside nenhuma dificuldade. No entanto, depois de
conhecermos uns e outros não demora muito tempo até que comecemos a sentir-nos
em comunhão existencial com uns e a ver outros como estranhos. Não adianta
ostentar publicamente uma etiqueta ou outra mas sim aspirar a viver de acordo
com os princípios e a essência que a caracterizam. Não nos chega, sequer, que
nos demonstrem erudição e conhecimento dos conteúdos
e objetivos contidos na nossa bandeira. Há que exigir, no mínimo, um
intento de assumpção dos seus parâmetros vitais.
Há
indivíduos que, por muito que digam que partilham a nossa trincheira, nunca
serão dos nossos nem nunca os consideraremos como tal, pois após um breve
contacto não descortinamos na sua atuação nenhum valor entre aqueles
que são próprios do Homem da Tradição. Não identificamos nestes indivíduos nem
um vestígio de nobreza, de lealdade, de fidelidade, de valentia, de
sinceridade, de franqueza, de serenidade, de temperança, de espírito de serviço
e sacrifício, de firmeza interior, de bravura, de tenacidade, de perseverança,
de laconismo, de prudência ou de abnegação, mas pelo contrário, em pouco tempo,
poderemos vislumbrar ou perfídia, ou hipocrisia, ou egoísmo, ou individualismo,
ou ânsia de notoriedade, ou tendência para a cobardia, ou predisposição para a
traição, ou deslealdade, ou mentira, ou ligeireza para criticar ou até caluniar
aqueles que lhe são próximos, ou a inveja, ou rancor, ou o ódio, ou a
incontinência verbal, ou a charlatanice, ou a irascibilidade, ou mudanças
súbitas de humor, ou a instabilidade psíquica, ou a ruindade, ou a
inconstância, ou a dissimulação, ou a estridência e a imprudência. Para nós é,
por isto, quase indiferente, se alguém hasteia a nossa bandeira ou uma
parecida, pois o que na verdade nos importa é que o faça tentando sentir os
valores que sempre foram os da Tradição e não apenas impregnados dos
contravalores do mundo moderno. A etiqueta não nos serve de nada se o
etiquetado nada faz em honra dela.
Causa-nos
ainda mais desagrado o indivíduo que professa verbalmente a sua adesão a uma
etiqueta semelhante à nossa e a mancha de modo execrável do que aqueles
contemporâneos nossos que se sentem identificados com esta funesta modernidade
e fazem gala do seu posicionamento. Estes, ao menos, mostram coerência entre os
seus contravalores de referência e a etiqueta própria do mundo moderno, o qual
idolatram e santificam. Os outros, pelo contrário, traem as nobres causas com a
sua maneira de ser. Sentimos camaradagem por aqueles que mesmo não militando
exatamente na nossa bandeira são fiéis na sua existência aos valores que temos
identificado como próprios da Tradição. Talvez possamos discordar com estas
pessoas em certos detalhes na hora de conceber a existência. Embora possamos ir
beber a fontes idênticas, talvez algumas das nossas referências históricas (ou
proto-históricas) ou míticas não sejam as mesmas (ou exatamente as mesmas) mas
sentimo-nos como camaradas quando conhecemos e podemos comprovar os valores que
os regem e caracterizam a sua maneira de ser.
Neste
sentido, entre estas pessoas dignas de admirar pelo exemplo que dão – ao serem
coerentes com os valores nos quais acreditam – encontramos um represaliado pelo
Sistema Dominante, Pedro Varela. Poucas pessoas como ele libertam essa espécie
de aura que é a marca da coerência, da honestidade, da tenacidade e da limpidez
de ânimo. Uma aura que move a admiração de todos aqueles que apreciam os
valores ignorados e menosprezados, pertencentes ao Mundo da Tradição. Por outro
lado, Pedro Varela apenas provocará inveja, receios e ódio entre os modernos,
impotentes para fazer seus aqueles elevados valores, pois a incapacidade e a
impotência movem a inveja dos que não são capazes de dignificar-se pela sua
vontade e esforço constante.
Que os
escassos Homens rectos propaguem seus ideais entre si, enquanto os néscios, os
desajustados, os alienados e os desequilibrados produtos da modernidade vão
merecendo o respeito do Sistema. No entanto, não nos surpreende o destino que o
mundo moderno outorga a estes tipos antagônicos de pessoas, pois aos
primeiros não os pode manipular, domesticar, hipnotizar, e aos segundos, pelo
contrário, seduz, programa e converte em seres movidos por reflexos compulsivos
e escravizados com grande facilidade.
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