terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Espartanas e o Matrimônio

Por Eduardo Velasco 

“Assim é como quero que sejam o homem e a mulher: um, capaz de guerrear; a outra, capaz de dar a luz...”
(Nietzsche, “Assim Falou Zaratustra”, Terceira Parte, As Velhas e Novas Tábuas, 24)

“O que eu quero é que sejam tua vitória e tua liberdade as que desejem um filho, já que a elas hás de erigir monumentos vivos. Deves edificar por cima de ti, porém antes hás de ser tu um edifício bem construído em corpo e alma. Reproduzir-te há de ser um criar algo que seja superior a ti. Para isso há de te ajudar o matrimônio. [...] Essa vontade que te impulsiona ao matrimônio, é essa sede de criador, é essa flecha e esse desejo que apontam ao super-homem, meu irmão? Sim? Em tal caso considero que essa vontade e esse matrimônio são algo santo.”
(Nietzsche, “Assim Falou Zaratustra”, Primeira Parte, Os filhos e o matrimônio)


Até aqui se examinou com detalhes o homem espartano, porém agora é momento de nos perguntarmos pela mulher espartana e dirigir a ela nossa atenção. As espartanas foram a mais nítida representação da mulher ariana de honra na Idade de Ferro, criadas sob um sistema aperfeiçoado que punha para reluzir suas mais nobres virtudes.
 
É um paradoxo o fato de que, sob um perfeito patriarcado, as mulheres gozassem de amplas liberdades? É sem sentido que, em um estado militarista onde as mulheres não deviam ter papel, tivessem as mulheres mais direitos que em qualquer outro Estado grego? Alfred Rosenberg disse:

“Esparta oferecia o exemplo de um Estado bem disciplinado, e estava carente de qualquer influência feminina. Os reis e os éforos formavam o poder absoluto, a essência do qual era a manutenção e a expansão desse poder mediante o incremento do estrato superior dório com seu aspecto disciplinado.”
(“O Mito do Século XX”, Livro Três, Capítulo II.)

Os arianos são uma raça totalmente patriarcal, cuja palavra mais representativa é “Pátria”, proveniente do latim pater (padre) – a palavra representativa de mater (mãe) é “matéria”. Esparta mesmo era viril e patriarcal até a medula, porém como veremos, os espartanos não eram de modo algum injustos ou opressores com suas mulheres, ao invés estas gozavam de uma liberdade impossível em sociedades matriarcais, onde tudo se centra no materialismo e o desfrute de gozos terrenos passageiros, e a mulher passa a ser uma cortesã, um objeto passivo de desfrute e de culto distorcido, cuja idealização está plasmada nas conhecidas “Vênus” dos promíscuos povos matriarcais – figuras de mulheres horrivelmente obesas e que representavam a beleza e a fertilidade para estes escravos deprimidos espiritual e fisiologicamente.

Esparta, um estado tão duro e tão viril, era o mais justo da Hélade em tudo o que concernia as suas mulheres, e não precisamente porquê fossem aduladas e mal-criadas como em nossos tempos. Esparta foi o único Estado helênico que instituiu uma política de educação feminina à margem dos conhecimentos do lar e das crianças que toda mulher devia possuir. Foi por isso mesmo o Estado com maior índice de alfabetização de toda Hélade, pois às meninas espartanas lhes era ensinado a ler assim como a seus irmãos, diferentemente do resto da Grécia, onde as mulheres eram analfabetas.

Na própria Esparta havia mais mulheres do que homens, porquê sua eugenia não era tão severa, porquê não passavam pela horrível experiência da Instrução, porquê não caíam em combate e porquê os homens não raro estavam realizando manobras militares ou em campanha. Os espartanos que pensavam em seu lar, deviam, pois, sempre pensar em termos de mãe, irmãs, esposa e filhas: a Pátria, o ideal sagrado, tinha um caráter feminino. Proteger a Pátria equivalia a proteger suas mulheres. Os homens não se protegiam a si mesmos: eles eram a couraça distante que defendia o coração, o núcleo sagrado, e se imolavam em honra desse coração. As mulheres representavam o círculo interior, enquanto que os homens representavam a muralha externa protetora.

As meninas espartanas recebiam comida na mesma quantidade e qualidade que seus irmãos, o que não sucedia nos Estados democratas da Grécia, onde os melhores alimentos eram para os varões. Eram colocadas sob um sistema educativo similar ao dos homens e que favorecia as aptidões de força, saúde, agilidade e dureza, sendo educadas em classes e ao ar livre, porém eram treinadas por mulheres, e não lhes era inculcado esse cego fanatismo de superação, sacrifício e vontade, esse sentimento de ser uma sonda lançada no abismo – sentimento que, no caso dos espartanos, roçava o afã de auto-destruição. No caso das meninas, a ênfase era mais colocada no domínio de suas emoções, no controle dos sentimentos e no cultivo do instinto materno. Se favorecia, ao invés, que as jovens treinassem esportivamente com os jovens, pois se pretendia que os varões as animassem a se superar nos esforços físicos.


A dureza, a severidade e a disciplina da educação feminina eram, em todo caso, muito inferiores às da Instrução dos varões, e se insistia muito menos no domínio do sofrimento e da dor, assim como na agressividade. As meninas espartanas não eram castigadas com a mesma crueldade com a que se castigava os meninos, nem eram arrancadas de seus lares quando completavam os sete anos. Após vermos a proeza quase sobrenatural que supunha a superação da instrução masculina, a educação das meninas, apesar de ser exemplar, não impressiona. A que se deve tudo isso, à parte do fato de que os homens militavam todos no Exército e precisavam portanto de maior autocontrole e disciplina?

Simplesmente, o varão é uma bomba-relógio. Em seu interior fermentam e ardem todo tipo de energias, forças e essências que, caso não sejam canalizadas, resultam negativas quando se vertem para força, pois essas forças procedem do lado escuro e sua primeira inclinação é o caos e a destruição. A agressividade do homem, seu instinto de matar, sua tendência a possuir, dominar e submeter, seu grande impulso sexual, sua maior força, bravura, potência, vontade, dureza e resistência, faz com que os homens tenham que ser submetidos a uma disciplina especial que cultive e canalize essas energias, especialmente quando se trata de homens jovens e sadios de instintos naturais poderosos, sob pena de que seus espíritos sofram um enorme perigo. O ascetismo em si (como o sacrifício) é algo muito mais próprio do homem que da mulher. De fato, a mulher ariana jamais esteve submetida a sistemas disciplinares tão severos como os dos antigos exércitos. Era considerada pelos homens de antanho como uma criatura mais “mágica”, pois não lhe estorvavam os rugidos da besta interior. Por todas essas razões, era justo que a educação masculina fosse mais severa e rigorosa que a feminina, pois é assim que se treina a besta. “Melhor é educar aos homens”, pôs Nietzsche nas palavras de um sábio ao qual sugeriram impor disciplinar às mulheres.

As forças masculinas, pois, só resultam negativas quando não são canalizadas nem conduzidas, e quando o são, conquistam proezas divinas, impossíveis para quem não é homem.

O principal na formação feminina era a educação física e a “socialista”, que consagrava suas vidas a sua Pátria – como os homens, só que em seu caso o dever não era derramar seu sangue no campo de batalha, mas sim manter vivo o lar, proporcionar uma progênie sadia e forte a sua estirpe, e cria-la com sabedoria e esmero. Iluminar, dar a luz, esse é o fruto do instinto feminino que renova a Raça; essa era a missão que era ensinada às meninas de Esparta.

As espartanas corriam, lutavam boxe, e faziam luta livre, ademais do lançamento de dardo e de disco, natação, ginástica e dança. Ainda que sim, participassem nos torneios desportivos espartanos, estavam proibidas de faze-lo nos Jogos Olímpicos por culpa do rechaço dos demais povos helênicos, infectados pela mentalidade pré-ariana segundo a qual uma “senhorita” deve se colocar entre quatro paredes até se converter em uma dessas mencionadas “Vênus” obesas, adoradas pelos antigos povos matriarcais como modelo de beleza feminina. Vemos que, enquanto as esculturas gregas representam bem o ideal de beleza masculina (pense-se no “discóbulo” de Mirón), não se aproximam minimamente ao ideal de beleza feminina: todas as estátuas femininas representam a mulheres amorfas, pouco sadias, pouco naturais e nada atléticas, ainda que de traços faciais perfeitos. Se os espartanos nos tivessem legado esculturas de mulheres, teriam representado muito melhor seu ideal de beleza, pois eles, à diferença dos demais helenos, sim possuíam um ideal feminino claramente definido, e sabiam claramente como tinha que ser uma mulher para eles.

Muitos povos arianos, ao entrar em contato com o lixo matriarcal, adotaram exageradamente um patriarcado mal assimilado que pretendia prevenir que a sociedade tradicional-patriarcal degenerasse em decadente-matriarcal, e cujo signo distintivo era o desprezo pela mulher e a anulação do seu caráter. Isso ocorreu em outros Estados helênicos e também posteriormente em Roma, porém a Esparta não lhe fez falta reagir assim.

Enquanto à austeridade feminina, era também pronunciada (ainda que nem tanto como a praticada pelos homens), especialmente se a compararmos com a conduta das demais gregas, já aficcionadas às cores, à superficialidade, às decorações, aos objetos, e já com esse indício de “consumismo” tipicamente feminino. As espartanas nem ao menos conheciam os extravagantes tecidos procedentes do Oriente, e deviam portar, como símbolo de sua disciplina, o cabelo amarrado com simplicidade – sem dúvida era também o mais prático para uma vida de intensa atividade desportiva. Assim mesmo, todo tipo de maquiagens, adornos, jóias e perfumes eram desconhecidos e desnecessários para as mulheres de Esparta, que desprezavam com altivez toda essa repugnante parafernália meridional. Sêneca disse que “a virtude não precisa de adornos; ela tem em si mesmo seu máximo ornato.” As espartanas deviam pensar assim.


Um dos objetivos de criar mulheres sãs e ágeis era que os bebês espartanos, crescendo no seio de corpos sólidos, nascessem promissores. Segundo Plutarco, Licurgo “exercitou os corpos das donzelas em correr, lutar, arremessar o disco e atirar com o arco, para que a geração dos filhos, tomando princípio em corpos robustos, brotasse com mais força; e levando elas os partos com vigor, estivessem dispostas para agüentar alegre e facilmente as dores.”

As espartanas eram preparadas, desde pequenas, para o parto e para a etapa na qual seriam mães, ensinando-lhes a maneira correta de educar um pequeno para que chegasse a ser um verdadeiro espartano. Durante essa aprendizagem, as espartanas muitas vezes atuavam como babás e assim adquiriam experiência para quando elas recebessem a iniciação da maternidade. Contraíam matrimônio a partir dos 20 anos, e não se casavam com homens que as superassem muito em idade (como sim sucedia no resto da Grécia), mas sim com homens de sua idade ou 5 anos mais velhos, ou mais novos, que elas no máximo, já que a diferença de idades nos membros de um matrimônio estava muito mal vista – pois sabotava a duração da etapa fértil da parelha. Não se permitia nem por suposição a aberração de casar meninas de 15 anos com homens de 30, aberração que, repetimos, sim se deu em outros Estados helênicos, onde os pais chegavam a forçar uniões cuja diferença de idade era de uma geração. (O próprio Platão, ainda que mais moderado, incorreu em um equívoco quando predicou que a flor da vida era aos 30 anos para o homem e aos 20 para a mulher.) Tampouco se permitia em Esparta outra abominação, que consistia em casar a jovens com seus próprios tios ou primos para manter a riqueza hereditária dentro da família, em uma mentalidade completamente oriental, endogâmica, anti-ariana e antinatural. Outras práticas, como a prostituição ou o estupro, nem mesmo eram concebidas, assim como o adultério.

A um espartano chamado Geradas, um forasteiro lhe perguntou que pena se aplicava em Esparta aos adúlteros. Geradas lhe respondeu: “Entre nós, ó hóspede, não os há.” E o estrangeiro insistiu de novo: “E caso houvesse?” Geradas respondeu: “Pagam um touro tão grande, que por cima do Taigeto beba do Eurotas”. O forasteiro, confuso, disse: “Como pode haver touro tão grande?” Geradas sorriu: “E como pode haver um adúltero em Esparta?”

Nos demais Estados gregos, a nudez masculina era comum em atividades religiosas e desportivas, e isso era signo de sua soberba e de seu orgulho. A nudez feminina, por sua vez, estava proscrita em similar medida que a própria presença feminina em ditos atos. Porém nessas procissões, cerimônias religiosas, festas e atividades desportivas de Esparta, as jovens iam tão nuas quanto os jovens. Cada no durante a Gymnopedia, que durava 10 dias, a juventude espartana de ambos sexos competia em torneios desportivos e dançava nua.

Hoje em dia atividades nudistas desse tipo seriam ridículas porquê a nudez das pessoas é repelente; seus corpos são flácidos e carecem de formas normais. O indivíduo moderno tende a considerar um corpo atlético como um corpo sobressalente, quando um corpo atlético é um corpo natural e normal, e são o resto dos tipos físicos atrofiados e não-exercitados os que não são normais. Recordemos a reflexão nietzscheana: “Um homem nu é considerado em geral como um espetáculo vergonhoso.”  Ainda assim, naquela época, presenciar semelhante demonstração de saúde, agilidade, força, beleza, musculatura e boas constituições devia inspirar um autêntico respeito e orgulho de estirpe, um sentimento seleto que é e será sempre pagão.

Os helenos dos Estados democratas alegaram em seu dia que a presença da nudez feminina poderia causar olhares lascivos, porém o certo é que os espartanos tomavam tudo aquilo com simples naturalidade, despreocupação e alegria pagã. Ademais, as jovens espartanas que identificavam um admirador abobado lançavam-lhe uma hábil ladainha de brincadeiras que o deixavam em ridículo diante de todo um estádio repleto de solenes autoridades e atento povo.

Em algumas cerimônias, as jovens cantavam sobre os varões que haviam realizado grandes proezas, ou infamavam ao que havia se conduzido mal. 

Elas eram, de alguma maneira, a voz exigente do inconsciente coletivo espartano. Elas eram a polícia da virilidade, as guardiães que velavam pelo arrojo e pela conduta dos homens. Não só era nas canções que vertiam suas opiniões, mas sim na vida pública: não deixavam passar nada, não eram indulgentes, mas sim que criticavam sempre ao covarde e elogiavam o valente. Para os homens de honra, as opiniões sobre o valor e a hombridade que tinham mais importância se procediam de vozes femininas, dignas de respeito: assim as críticas eram mais pungentes e os elogios mais revigorantes (segundo Plutarco, as espartanas “engendravam nos jovens uma ambição e emulação laudáveis”). É por isso que, no caso dos espartanos, as relações com as mulheres não os amoleciam, mas sim os endureciam ainda mais – pois eles preferiam ser valentes e conquistar a adoração de tais mulheres.

E qual foi o resultado da educação patriarcal espartana para as jovens? Foi uma casta de mulheres à beira da perfeição, mulheres severas, discretas e orgulhosas. A feminilidade espartana tomou o aspecto de jovens atléticas, alegres e livres, porém quando necessário, graves e sombrias. Eram, como as valquírias, a companheira perfeita do guerreiro. Eram fisicamente ativas e audazes; muito distantes, pois, do ideal de “mulher-objeto” e prostituída do Sistema moderno.

Em toda Hélade, as espartanas eram conhecidas por sua grande beleza, e respeitadas por sua serenidade e maturidade. O poeta Alcemno de Esparta (século VII AEC) dedicou uns versos a uma campeã espartana que competia em corridas de carros, elogiando-a por sua “cabeleira de ouro e o rosto de prata”. Dois séculos mais tarde, outro poeta, Baquílides escreveu sobre as “loiras lacedemônias”, descrevendo-as como “de cabelos de ouro”. Tendo em conta que as tintas em Esparta estavam proibidas, podemos deduzir que o racismo e o instinto de “Apartheid” dos espartanos em relação aos gregos aborígenes era suficientemente forte como para que nada mais e nada menos setecentos anos depois da invasão dória, os cabelos loiros ainda predominassem entre a cidadania de Esparta.


Em uma comédia entitulada “Lisístrata”, escrita pelo dramaturgo ateniense Aristófanes (444 AEC – 385 AEC), há uma cena na qual uma multidão de mulheres atenienses rodeia, admiradas, a uma jovem espartana chamada Lampito. “Que criatura mais esplêndida!” dizem as atenienses. “Que pele tão saudável, que corpo tão firme!” Outra adiciona: “Nunca vi seios como esses.” Homero chamou a Esparta Kalligynaika, quer dizer, “Terra de Mulheres Belas”. Por outro lado, não esquecemos que a lendária Helena de Tróia, a mulher mais bela do mundo, foi originalmente Helena de Esparta, um ideal, inclusive uma rainha-sacerdotisa que foi roubada e que não apenas Esparta, mas sim a Grécia inteira, recuperou através de luta e de conquista.

As mulheres espartanas eram superiores em todos os aspectos às demais mulheres de seu tempo e, sem dúvida, às mulheres atuais. Inclusive em virtudes físicas, valor e dureza superariam a maioria dos homens modernos. Sua severidade dava a melhor companhia a seus esposos e a melhor criação a seus filhos, e em troca exigia os maiores sacrifícios: uma anedota relata como uma mãe espartana matou seu próprio filho quando viu que era o único sobrevivente de uma batalha e que voltava a seu lar com uma ferida nas costas – quer dizer, havia dado as costas ao inimigo, havia fugido ao invés de cumprir com seu sagrado dever e imolação gloriosa. Outra mãe Esparta, ao ver como seu filho fugia do combate, levantou sua túnica e perguntou – com a mais impiedosa crueza, certamente – se sua intenção era voltar apavorado ao lugar de onde saiu. Enquanto outras mães teriam dito “pobrezinho!” e teriam estendido os braços, as mães espartanas não perdoavam. Tácito escreveu que as mães e esposas dos germanos (que viviam com uma mentalidade não muito distinta da de Esparta) costumavam contar as cicatrizes de seus guerreiros, inclusive exigiam que voltassem com feridas para demonstrar sua presteza no sacrifício por elas. Os espartanos acreditavam que em suas mulheres residia um dom divino, e não eram as espartanas quem lhes ia convencer do contrário, de modo que procuravam estar a altura da devoção que seus homens lhes professavam. Assim, as mulheres estavam convictas de que em seus homens habitava essa nobreza, valor, sinceridade, poder e retidão tipicamente masculinas, junto com a noção de dever, de honra, e a disposição para o sacrifício, e os homens procuravam também manter-se à altura de tal ideal. De novo, encontramos que a mulher ariana antiga não amolecia seu homem, mas sim o ajudava a melhora-lo e aperfeiçoa-lo, pois o homem sentia a necessidade de manter a integridade perante semelhantes mulheres, de modo que as mulheres se mantinham alerta e faziam o que era apropriado perante os varões, tendo presente em suas mentes que elas constituíam por si mesmas ideais pelos quais seus homens estavam dispostos a se sacrificar.

De tal modo, se criava um círculo vicioso. A mulher não era um motivo para abandonar a luta, mas sim precisamente um motivo para lutar com ainda mais fanatismo.   
                                                                                                
Os demais gregos se indignavam porquê as espartanas não tinham medo de falar em público, porquê tinham opiniões e porquê, ademais, suas esposas as escutavam. A mesma indignação experimentaram os romanos tardios frente a maior liberdade da mulher germânica. Ademais, e posto que seus homens levavam uma constante vida de acampamento militar, as mulheres espartanas (como as vikings) estavam encarregadas da administração e do lar. Administravam os recursos da casa, a economia e a autosuficiência da família, de tal modo que os espartanos confiavam em suas mulheres para proporcionar à sua sistia as rações de comida estipuladas. As mulheres espartanas (também como as germânicas) podiam herdar propriedade e transmiti-la, ao contrário que o resto de mulheres gregas. Toda essa administração doméstica feminina era, como vemos, similar no direito germânico, onde as mulheres ostentavam a chave do lugar como signo de soberania sobre a casa familiar sagrada e inexpugnável, e de sua fidelidade ao cabeça da família. O lar é o menor templo que pode ter a menor unidade de sangue, célula e base de toda a Raça: a família. E a portadora de sua chave tinha que ser por força da mãe ariana.

Uma sociedade na guerra está condenada se o lar, se a retaguarda feminina, não está com a vanguarda masculina. Todos os sacrifícios dos guerreiros são apenas um glorioso esbanjamento sem meta e sem sentido se na Pátria não há mulheres dispostas a manter o lar em funcionamento, e brindar seu apoio e ânimo espiritual aos homens em campanha e, em última instância, a parir novos guerreiros. Um soldado longe de seu lar, sem pátria, sem ideal e sem uma imagem feminina de referência – um modelo de perfeição, um eixo de divindade – degenera imediatamente em um bandido sem honra. Ao contrário, se é capaz de interiorizar uma mística interior e uma simbologia feminina que equilibre a brutalidade que presencia no dia a dia, seu Espírito se verá fortalecido e seu caráter se enobrecerá. Esparta não teve problemas nesse sentido; as espartanas eram a contraparte perfeita de um bom guerreiro.


Trataremos agora do assunto das relações maritais em Esparta, pois após admirar como Esparta salvaguardava a honra e a liberdade de suas mulheres é quando não nos sentiremos escandalizados ao saber como eram essas relações.

Em Esparta, até o matrimônio estava repleto de violência: durante a cerimônia, o homem, armado e nu, pegava firmemente o braço de sua prometida e a levava “à força” enquanto ela baixava a cabeça, deixando-se levar em submissão. Isso não há de ser interpretado em um sentido literal de rapto, mas sim em sentido metafórico e ritual, o de uma entrada em cena: nas mitologias arianas sempre há numerosas referências ao roubo, ao seqüestro – e a conseguinte liberação – de algo santo que é necessário conquistar, ganhar o direito a possuí-lo. O fogo dos deuses, o velo de ouro, as maçãs das Hespérides, o Graal das tradições célticas e germânicas e a Valquíria adormecida são exemplos de tais imagens sagradas. Eram ideais apreciados que não se entregavam gratuitamente, mas sim que se conquistavam pela força e pelo valor após haverem superado duríssimos obstáculos, e por isso se garantia que só os mais valorosos eram capazes de arrebata-lo e possui-lo, enquanto que os débeis e pusilânimes ficavam desqualificados na luta. Por outro lado, não se pode descobrir semelhança entre o ritual do matrimônio espartano e o sveyamvara indo-ariano, o matrimônio por rapto permitido aos guerreiros, assim como no caso das sabinas raptadas pelos latinos nas origens de Roma, e o próprio tipo de matrimônio permitido aos antigos cossacos? Na escritura indo-ariana do Mahabharata, se relata como o herói Arjuna raptou a Subhadra, “como fazem os guerreiros” desposando-a. Novamente, não se tratava de um rapto literal, mas bem de uma conquista do sagrado mediante o respeito e a força, que fazia com que o sagrado caísse rendido perante o jovem herói.        
                                          
No matrimônio espartano, pois, podemos ver como a mulher espartana era elevada à categoria de ideal divino e não era entregue por seus pais a um homem escolhido por eles (como no judaico ritual moderno do matrimônio, que converte a prometida em mercadoria tribal), mas sim que o varão valoroso tinha que ganha-la. De fato, em Esparta não estava permitido que os pais tivesse a ver com os assuntos maritais dos seus filhos, mas sim que era a própria parelha a que decidia sua união. Se deixava claro que para possuir a uma mulher da categoria das espartanas não valiam a riqueza, o consentimento paterno, os arranjos matrimoniais, a dialética, a sedução ou as palavras falsas; era necessário impressionar e arrasar, ser robusto e nobre, ser geneticamente digno e capaz de arrebatar.

Mesmo assim, a cerimônia espartana de matrimônio – sombria e quase sinistra em sua direta crueza – é o cúmulo da sociedade ariana guerreira-patriarcal, e uma das mais eloqüentes e desagradáveis expressões do patriarcado que regia na própria Esparta. Esparta quis instaurar a paranóia militar e o ambiente de guerra perpétua até no matrimônio! Do mesmo modo que as crianças tinha que procurar sua comida mediante o saque e a rapina, como simulando estar em zona inimiga, os homens adultos deviam também conquistar a sua escolhida como se encontrassem em território hostil: “raptando-a”, em memória de uma época dura e perigosa que não era amável com o romantismo e com os apaixonados, e na qual os apaixonados estavam cercados pelo perigo. Isso patenteia o pouco que tinham a ver os pais em uma trama assim: em tempos antigos, caso fosse negado o consentimento ao matrimônio, o jovem realizava uma incursão audaciosa e, com a cumplicidade de sua prometida, a “raptava”.

Com o sistema matrimonial espartano também se dava a entender sutilmente que, tal e como ensina a Natureza, não é qualquer um que tinha direito a uma fêmea. Para poder aspirar a tal direito, era necessário para o homem passar provas: a eugenia, a criação infantil, a Instrução, o ingresso nas sistias do Exército e a fidelidade mútua com uma jovem espartana de sua mesma quinta, que por sua vez se conquistava através da observação e do conhecimento nos acontecimentos desportivos, populares e religiosos, e de uma grande amizade cujo latente propósito amoroso devia permanecer oculto perante o resto da sociedade. Ao longo de todas essas fases, o varão espartano conquistava a sua amada, e não no sentido desfigurado de lábia e sedução retorcida, mas sim demonstrando ser digno dela, conquistando-a literalmente com sua fidelidade, sua força, sua paciência, seu respeito e sua valia. A mulher não conquistava, nem tinha que demonstrar nada. Ela também escolhia seu prometido e tinha a palavra em relação a aceitar seu futuro esposo. Em última instância, era ela que por vontade própria se entregava com cumplicidade, deixando-se “raptar” ritualmente pelo homem de sua escolha, em um romantismo muito peculiar e escuro em comparação com o que nos oferece o istema atual, a suave candidez sentimentalóide e interessada do que a modernidade faz passar por “amor”.

Após o ritual, a noiva era levada para a casa de seus sogros. Ali sua cabeça era raspada e ela era vestida como homem. Depois, era deixada em um cômodo às escuras, à espera de que chegasse o noivo. Tudo isso é extremamente difícil de compreender para uma mente ocidental moderna, e não é sob este ponto de vista que devemos tentar entende-lo, mas sim situando-nos na época e tendo presentes que tanto espartano como espartana pertenciam a uma Ordem. Essa última fase – totalmente sórdida – servia para inculcar nos recém-casados a noção de que a clandestinidade e a discrição de sua relação não havia terminado, e que ainda não haviam ganho o direito a desfrutar de um matrimônio normal. Para a mulher, implicava iniciação, sacrifício e nova etapa. Era despojada de sua consciência sedutora e de seus dotes de sedução. Para o homem, era benéfico para que se apreciasse o que realmente importava em sua mulher: não a roupa, não o cabeço ou os adornos, mas sim seu corpo, seu rosto e seu caráter. Levar a cabo um ato nessas condições tétricas e absolutamente hostis ao romantismo e à excitação sexual era tanto para o homem como para a mulher o menos estimulante imaginável, de modo que se acostumavam paulatinamente às sensações físicas derivadas do ato sexual, porém sem estímulos psicológicos adicionais tais como uma aparência mais feminina na mulher, e um entorno mais amável, estímulos que tendem a boicotar a resistência do varão, fazendo com que se abandone ao prazer e se durma nos loureiros. Portanto, essa sinistra entrada em cena era pouco estimulante sexualmente a curto prazo, porém por outro lado era muito estimulante a longo prazo, de uma forma extremamente sutil: pouco a pouco, se insuflava nos corações dos amantes a nostalgia e o desejo por aquilo que ainda não lhes era ainda permitido. Assim, para quando já havia crescido na mulher uma abundante cabeleira, e a pseudo-clandestinidade da relação se havia dissipado com o tempo, tanto homem como mulher eram adultos bem experimentados que sabiam o que queriam e que, a pesar disso, não haviam sofrido míngua nenhuma em seu desejo sexual, mas sim ao contrário, estavam mais que nunca plenamente preparados para saber apreciar e aproveitar o que supunha uma relação física livre e saudável.

Licurgo estabeleceu que um homem devia sentir vergonha de ser visto com sua mulher em atitudes amorosas para que o encontro se levasse em privado e com a maior intimidade e paixão, já que o segredo e a hostilidade circundante favoreciam a magia da união, o sentimento de cumplicidade e o verdadeiro romantismo, que sempre há de ter algo de secreto. O objetivo dessa medida, ademais, era favorecer a sede de verdadeiro conhecimento mútuo, a fascinação, o mistério, o feitiço, o curto-circuito sagrado entre homem e mulher, e – digamos assim – a excitação do proibido, para que sua relação não tivesse nada de público, mas sim de privado, e para propiciar que tanto o homem como a mulher não chegassem nunca a se fartar um do outro. O casal espartano devia ter, pois, uma sexualidade poderosa, que emanava dos corpos sadios e espíritos puros, dando lugar a um erotismo limpo, de uma luxúria positiva e necessária para a conservação da Raça. Em palavras de Xenofonte:

“[Licurgo] Notou, também, que durante a época imediatamente posterior ao matrimônio, era corrente que o esposo coabitasse ilimitadamente com sua esposa. A regra que adotou era o oposto a isso, pois declarou coisa vergonhosa que um homem fosse visto no momento de entrar na habitação de sua mulher, ou ao abandona-la. Com essa restrição sobre o ato, era forçoso que os esposos se mantivessem unidos por um maior desejo, e que o filho que em essas condições engendrassem fosse mais forte do que se estivessem já saciados um do outro.” 
(Constituição dos lacedemônios”, 1)

Como, então, se arranjavam os espartanos para estar com suas mulheres? Nas sistias, se levantavam em silêncio e abandonavam a sala. Cuidando de que ninguém os visse (de noite estava proibido circular com lanterna ou iluminação de qualquer tipo, para fomentar a capacidade de se mover na escuridão sem medo e com segurança), entravam em seu lar, onde encontravam sua mulher, e onde sucedia o que tivesse que suceder. Depois, o homem voltava à sistia com seus camaradas de armas, envolto em um secretismo que quase roçava a sordidez. Ninguém se inteirava de nada. A sexualidade do casal era estritamente privada, inclusive furtiva e pseudo-clandestina, para que nenhuma pessoa pudesse interferir nela, para que a relação fosse mais vigorosa e, de novo segundo Plutarco, para que suas mentes estivessem sempre “recentes no amor, por deixar em ambos a chama do desejo e da complacência”.

Eram as relações espartanas algo normal, natural ou desejável? Não. Todo o contrário. Criava-se um clima o mais desagradável, que dista muito de se corresponder com algum tipo de “ideal” ariano. Ninguém em pleno juízo desejaria uma relação assim como via de aperfeiçoamento e refinamento.

Com os espartanos, por sua vez, por sua peculiar idiossincrasia popular, essas coisas  funcionavam. E, ainda assim, vemos que o tédio, a repetição, a falta de excitação e a monotonia, autênticos demônios dos casais modernos (e causa de muitas insatisfações, infidelidades, rupturas ou perversões surgidas para romper a rotina), não eram algo comum nos matrimônios espartanos.

A privacidade e discrição espartanas eram, de fato, o oposto às relações de nossos dias, que são pura aparência e conveniência social, e que estão baseadas no público, não no privado. Os espartanos compreenderam esse assunto tão importante e viveram conforme a ele. Favoreciam o encontro entre homens e mulheres nos acontecimentos populares, porém quiseram que as relações amorosas fossem estritamente privadas. Os SS também o compreenderam, e sobre suas tábuas de valores estamparam firmemente seu credo de união: “Reserva ao amor seu aspecto misterioso!” Eles, como os espartanos, foram adeptos da tradição ariana do amor sagrado. A força de seu amor procedia deles mesmos – à diferença das infantis relações atuais, cujo combustível é o mundo externo alheio ao casal, sem o qual o casal está vazio e não funciona.

O romantismo espartano era o paradigma do amor ariano na Idade do Ferro: amor em zona hostil e em tempos difíceis. As relações matrimoniais espartanas eram exemplares, desenhadas para que o intercâmbio fosse benéfico. Hoje em dia, o matrimônio quase invariavelmente castra o homem, tornando-o gordo, covarde e indolente, e convertendo a mulher em uma manipuladora hedonista, caprichosa, convencida e venenosa. Em Esparta sucedia o contrário: o matrimônio reafirmava as virtudes de homens e mulheres.

Por outro lado, existiu outra polêmica medida espartana que tinha a ver com a necessidade de procriar. Se um homem começava a envelhecer e conhecia a um jovem cujas qualidades admirava, podia apresenta-lo a sua esposa para que gerassem uma descendência robusta. A mulher podia coabitar com outro homem que a aceitasse, e se este era de maior valor genético que seu marido (quer dizer, se era melhor homem sob o ponto de vista ário-pagão), isso não era considerado adultério, mas sim um serviço à Raça. Do mesmo jeito, se uma mulher era estéril ou começava a decair biologicamente cedo, o esposo tinha direito a tomar uma mulher fértil que o amasse, sem que tampouco fosse considerado adúltero. Na sociedade viking (que era o tipo de sociedade da qual provinham os antigos dórios), se uma mulher era infiel com um homem manifestamente melhor que seu marido, não era considerada adúltera.

Tudo o dito pode parecer sórdido e primitivo, pode parecer uma anulação do indivíduo ou da ordem, e um “rebaixar ao homem à categoria de gado”, porém frente a premente necessidade que tinha Esparta de descendência, pouco importavam os egoístas desejos individuais. Às forças da Natureza e da Raça, os caprichos pessoais os traem sem preocupação. O que importa é que a descendência seja sadia e robusta, e que jamais se extinga a torrente de filhos. Portanto, se instauravam essas medidas que, em um povo indisciplinado teriam causado o caos, porém aos espartanos, acostumados à discrição e à ordem, não causava problema algum. Por outro lado, há que evitar cair no erro de pensar que todos os casais eram “soltos”. O normal na imensa maioria dos casos era que ambos membros do casal fossem sadios e férteis, e não precisassem de “assistência”.

Como era considerado o parto em Esparta, no marco dessa mentalidade natural? Um bom modo de explica-lo é citando um lema fascista que reza: “O parto é para a fêmea o que a guerra é para o macho”. O dever dos homens era sacrificar suas forças no dia a dia e derramar seu sangue no campo de batalha, e o das mulheres se esforçar para dar a luz a filhos sadios e cria-los. Desde pequenas, era o dever sagrado que lhes havia sido inculcado. Nesse entorno, uma espartana que se negasse a parir teria sido tão mal vista como um espartano que se negasse a lutar, pois a mulher que se nega a parir sabota o sacrifício do jovem guerreiro de igual modo que o homem que se nega a defender seu lar sabota o esforço da jovem mãe que dá a luz e ilumina a casa por dentro. Teria sido mais que um sacrilégio, mais que uma traição. Ártemis, a divindade feminina mais venerada em Esparta, era entre outras coisas, Deusa do Parto, e era invocada pelas jovens quando chegava o momento de dar a luz. Em todo caso, o parto para as mulheres espartanas não devia ser um transe muito sofrido, em primeiro lugar porquê desde pequenas endureciam seu corpo e exercitavam os músculos que as ajudariam a parir, em segundo lugar porquê concebiam seus filhos enquanto eram jovens e fortes, e em terceiro lugar porquê pariam sob a alegre e orgulhosa motivação do dever, auxiliadas por um conhecimento e uma medicina naturais, confirmadas por muitas gerações de mães espartanas.

A grande liberdade feminina em Esparta não implicou que às mulheres fossem entregues postos de liderança do poder. A mulher não era condutora, mas sim inspiradora, geradora. Não dominava, mas sim influenciava sutilmente, reafirmando o caráter dos homens.  O poder era coisa de homens, e essa obsessão pelo poder material que se mostra em círculos pseudo-feministas e New-Age é algo enfermiço quando se trata de mulheres. Uma mulher ariana podia ser sacerdotisa ou rainha, porém não se imiscuía nos assuntos de mando político e guerreiro, porquê isso significaria tomar um papel associado ao lado masculino. A mulher ariana era um ideal puro que devia manter-se apartada a todo custo do lado sujo da política, do mando e da guerra, porém sempre presente na sociedade e no pensamento do guerreiro, pois ali era onde residia o misterioso poder da mulher ariana que tanto aterrava a Judiaria e aos eunucos espirituais que, durante a caça às bruxas, cometeram o sacrilégio supremo de queimar o enforcar a centenas de milhares de mulheres européias de bom sangue ariano, torturando a muitas outras até a loucura ou a morte. Era na mente do homem onde a mulher se convertia em condutora, e não no sentido baixo-sexual que promoveu o Sistema com sua inversão, mas sim no sentido de amor-memória (enquanto Minne) e inspiração.
   


À Rainha Gorgo de Esparta, esposa do imortal Rei Leônidas, uma mulher estrangeira lhe disse uma vez que só as mulheres espartanas conservavam ainda alguma influência de verdade sobre os homens, e a Rainha o contestou: “Porquê somos as únicas que damos a luz a homens de verdade.” Novamente, as mulheres espartanas tinham influência sobre os homens, porém não poder. Nas antigas assembléias escandinavas, como exemplo do valor da influência feminina, só se permitia votar aos varões casados: o homem era o que tomava as decisões, porém se assumia que não era completo até que tinha a seu lado um espírito complementar feminino que lhe transmitisse certa magia no dia a dia e lhe inspirasse em suas reflexões, e até então não se lhe permitia votar. Na prática, cada matrimônio era um voto.

Por outro lado, nos demais Estados helênicos (como nos países árabes modernos) se havia desterrado a presença feminina, desequilibrando a mentalidade e a conduta do guerreiro e facilitando finalmente a aparição da homossexualidade tão comum entre esses povos. Todo esse assunto da feminilidade espartana era realmente inconcebível no resto da Grécia. Os atenienses chamavam às espartanas fainomérides, quer dizer, “as que ensinam os músculos”, como censura a sua liberdade de vestimenta. Isso era devido a que as espartanas usavam todavia o antigo peplos dório, que estava aberto nas costas até a cintura. Era parte de uma moda feminina mais cômoda e ligeira que a do resto das gregas, uma moda carente de detalhes extravagantes, maquiagens, jóias ou perfumes; era uma moda para mulheres sadias. Porém, o resto da Hélade, no que concerne as mulheres, estava já infectada pelos costumes orientais, que as mantinham permanentemente encerradas em casa, onde seus corpos se debilitavam e seus espíritos adoeciam.

Isso, como disse antes, ocorreu também como reação inconsciente e injusta contra a possibilidade de que a influência oriental chegasse a se consumar, convertendo o patriarcado helênico em um matriarcado. O resultado foi um patriarcado-aberração, como em certo modo o são as sociedades de judeus, árabes ou ciganos.


Os próprios atenienses jamais teriam podido conceber que as mulheres exibissem sua nudez em público, ainda que os varões sim o faziam comumente. O poeta ateniense Eurípides (480 AEC – 406 AEC) se escandalizava frente o fato de que as “filhas dos espartanos” saem de suas casas” e “se misturam com os homens mostrando os músculos”. O resto de gregos tinham as espartanas como criaturas fascinantes, porém intimidadoras, não só por sua atitude altiva, mas sim porquê conheciam homens de uma categoria impressionante, com o quê desprezavam aqueles que não estava a tal altura. 


 
Trecho retirado do livreto "Esparta e Sua Lei".

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