Com narrativas antigas adaptadas aos dias de hoje,
contos de fadas estão bastante presentes na literatura, cinema e televisão,
comenta o pesquisador Wolfgang Mieder, vencedor do Prêmio Europeu de Contos de
Fadas de 2012.
Os contos de fadas não estão sendo esquecidos,
muito pelo contrário. Hoje em dia, eles costumam servir de inspiração para uma
quantidade razoável de filmes, livros e séries de televisão. Ou seja, o mercado
é enorme. "Isso faz com que, por outro lado, cada um leia uma história
diferente e acabamos não conhecendo os mesmos contos de fadas. O elemento de
ligação falta neste caso", analisa Wolfgang Mieder, pesquisador do
assunto. Mieder vê, porém, o futuro do gênero com otimismo. Ele acredita que os
contos de fadas terão um lugar garantido no imaginário do futuro, embora a
forma como são contados seja, para ele, motivo de preocupação.
Vencedor do Prêmio Europeu de Contos de Fadas em
2012, Mieder pesquisa há mais de 40 anos a respeito da importância e da
disseminação dos contos de fadas. De cidadania alemã e norte-americana, ele
cresceu em duas culturas e se sente em casa nos dois países. A influência dos
contos de fadas alemães no mundo é grande, garante o pesquisador. "Os
contos de fadas alemães têm, como sempre tiveram, uma grande importância. Não
há praticamente nenhum país, no qual os contos dos Irmãos Grimm, por exemplo,
não estejam presentes", diz Mieder.
Embora as narrativas antigas sejam adaptadas ao
momento presente, os contos de fadas mantêm, geralmente, seu cerne original.
"Os contos mágicos, com seus finais felizes e didáticos, são os que acabam
sendo sempre escolhidos. É claro que eles contêm sempre algo do mal, mas a
beleza do conto de fadas está no fato de que sempre há uma certa justiça e que
o bem acaba vencendo", completa.
Fábulas refletem problemas arquetípicos
O princípio do bem e do mal está também presente em
sagas modernas, como Harry Potter, por exemplo. É isso que fascina os
adolescentes e os leva à leitura. Trata-se do mesmo esquema, em diversas
variações, do princípio mais simples do mundo. Mieder lembra seu conto
preferido para explicar a questão: "Valores como a esperança e a justiça,
que sempre chegam ao leitor, são transpostos", analisa o pesquisador.
Mas não é só isso. Segundo ele, os contos
explicitam verdades sobre o ser humano, o que os torna atemporais e
independentes de universos culturais específicos. "Nos contos estão
representados os problemas arquetípicos do ser humano, mas através de uma
linguagem poética e simbólica. Assim podemos nos identificar para além das
fronteiras entre as culturas", conclui Minder.
Sua predileção pelos contos de fadas alemães e pelo
idioma do país foram descobertos mais tarde. Depois de concluir o ensino médio,
ele, alemão de nascimento, mudou-se para os EUA, a fim de se tornar matemático.
No entanto, um seminário de etnologia o empolgou a ponto de tomar a decisão de
se aprofundar em assuntos ligados à cultura. E isso no país no qual ele havia
optado viver: nos EUA.
Assim, lembranças antigas de seus tempos na
Alemanha eram recorrentes: "Nos anos 1950, ao comprar margarina, você
recebia de presente algumas figurinhas coloridas, que você ia juntando com
esforço e depois colando em álbuns. Foi nesses álbuns que descobri o universo
dos contos", relata o pesquisador.
Efeitos que independem da cultura
Hoje em dia, a coisa é diferente: na era digital, a
disseminação dos contos mudou. "O que antigamente demorava décadas, hoje
espalha-se com uma rapidez absurda. A questão é só saber se os novos contos e
provérbios vão continuar sobrevivendo. Em sua maioria, eles desaparecem com
rapidez. Mas na internet dá para perceber exatamente qual será a repercussão de
uma coisa", observa Minder. O fato de que histórias podem ser acessadas de
qualquer lugar surte efeitos sobre a narrativa, acredita.
Hoje em dia, as histórias quase não são mais
contadas, mas em primeira linha consumidas, seja no cinema, na TV ou na
internet. "Se você pedir para alguém contar um conto de fadas no meio da
rua, quase não vai achar alguém. Embora conheçamos os contos, não estamos mais
acostumados a contá-los", conclui Minder.
Outras narrativas, outras expectativas
As expectativas também mudaram muito no que diz
respeito à linguagem visual e ao ritmo da narrativa. Os filmes têm se tornado
mais rápidos e o contexto, bem como as narrativas, mais complexos. A
superprodução corrente de contos de fadas tornou o aspecto comunitário do
"contar histórias" obsoleto. No entanto, Minder observou recentemente
uma nova onda consciente de resgate do "contar histórias" nas escolas
alemãs.
Isso é também importante, diz o pesquisador,
"a fim de mostrar aos jovens que algo os une. Ao observar a política
atual, surge a pergunta: podemos sobreviver hoje, sem ajudar os outros? Acho
que os contos fornecem uma resposta simples para isso através de respostas como
disposição em ajudar, altruísmo e coragem de dividir.
Wolfgang Mieder tem mais de 200 publicações e em
torno de 500 artigos sobre o assunto fábulas, sagas e provérbios. Ele é
professor de Filologia Alemã e Folclore na Universidade de Vermont. "Nas
minhas aulas, quero, sobretudo, favorecer o acesso pessoal dos estudantes aos
contos de fadas. Por que lemos um conto? Quais são os sistemas de valor ali
representados? Em minha pequenez, procuro ser um mensageiro dentro da ciência e
também um mediador entre culturas", diz ele.
Mieder prima pela modéstia. Apesar dos diversos
prêmios internacionais, ele não tem bem certeza de ter de fato merecido o
prêmio que recebe agora. No entanto, é possível que quase não exista ninguém
que tenha influenciado a pesquisa sobre fábulas e provérbios de maneira tão
veemente quanto ele.
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