quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Tempo das Redes

Por Alain de Benoist


O século XX terminou em novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim. O século 21 iniciou não oficialmente em 1993, com a primeira difusão em larga escala da Internet. Não há dúvida: a vinda da “web global” anuncia uma época sem precedentes: a Era da Internet. A Internet é uma rede cuja circunferência é ilimitada e não tem centro. Esse meio descentralizado, interativo e horizontal, que conecta seus usuários na velocidade do elétron, estabelece uma espécie de cérebro planetário cujos neurônios são os indivíduos conectados. Mais de trinta milhões de pessoas já entraram nessa sociedade global comunicativa, que facilmente supera fronteiras e controles. A cada mês, um milhão de novos “contatos” entram nesse sistema. Sobre as “info-estradas”, onde a escrita, o som e a imagem se misturam em uma única linguagem numérica, um Novo Mundo está nascendo, um “mundo cibernético”, povoado por “cidadãos cibernéticos”. Nem os governos e nem os políticos, até agora, entenderam a medida exata e as consequências desse fenômeno. 

Toda evolução tecnológica cria sua própria ideologia, e essa ideologia impulsiona a mudança social. Nas sociedades tradicionais, as relações humanas eram principalmente territoriais e ocorriam em uma dimensão espacial contínua. A urbanização alterou profundamente esse modelo. Para a disjunção entre o local de trabalho e a residência algumas práticas sociais que permitiam sair diariamente do próprio domicílio (multilocalização) foram acrescentadas. O espaço se torna uma propriedade como qualquer outra, que pode ser vendida, trocada ou acumulada. O advento da rede cibernética transforma e acelera esse processo. Enquanto a comunicação se torna o motor essencial das relações sociais, a extensão da rede contribui para a fragmentação e a “desinstitucionalização” da sociedade. Não há mais pertencente, não há mais adesão: “estar on-line” é o imperativo categórico. Os partidos políticos já não representam um meio eficiente de realização para os indivíduos, enquanto as associações cívicas e os movimentos de causa única dominam os sindicatos. No mundo da rede global não existem mais países ou populações, mas as múltiplas pertenças sem fôlego: tribos, Diáspora e clãs.

Walkmans e celulares são ferramentas, dentre muitas outras, que contribuem para libertar o homem da estabilidade. “Amanhã, ruas e praças”, Alain Finkielkraut diz, “serão invadidas por mutantes ocupados conversando com eles mesmos”. Assim, uma sociedade nômade é criada – nomadismo de ferramentas, valores e homens – que privilegia uma modalidade transversal de comunicação,nivelando todas as clássicas estruturas institucionais e piramidais. Um mundo virtual, sem distâncias e nenhuma expiração está crescendo: um mundo de incontrolável rede criptada, no qual os objetos imaterializados circulam e retornam materializados no final do processo em que estão envolvidos; um mundo que também pode se tornar uma selva financeira, onde as Bolsas de Valores são transformadas em cassinos eletrônicos.

Além do nomadismo, há o encasulamento. AiInternet é uma ferramenta de comunicação, mas a sua forma de comunicação abole as dimensões de tempo e espaço, que são (eram) o contexto no qual, até hoje, a liberdade humana era expressa. Dessa forma, a rede aprisiona o indivíduo em uma esfera privada, que é cada vez mais limitada para o abuso de um controle remoto ou de um teclado. O deslizamento progressivo do local de trabalho para o endereço virtual (teletrabalho) vai na mesma direção. Se o mundo pode ser praticamente descoberto permanecendo em casa – o filósofo Paul Virilio argumenta – por que deveríamos sair? Finalmente, a internet enfatiza todas as características essenciais dessa era: disposição para a urgência(ou seja, zapear), esquecimento da história e das “razões”, o prazer é concebido como um meio privilegiado de acesso à experiência. Liberdade de expressão é cada vez mais restrita a sua forma comercial, a soberania absoluta do consumidor. Bill Clinton definiu o comércio electrônico como “Extremo Oeste da economia total”. Em um universo onde tudo é acessível através de uma portagem (mercado global), apenas o mercado ainda distrai as pessoas da solidão.

O advento da internet também cria agenciamentos de um novo tipo. Quando 300 mil pessoas são reunidas em Paris para o dia do “Orgulho Gay”, quando os dias mundiais da Juventude inspiram um milhão jovens católicos a participar do Longchamp, quando centenas de milhares de pessoas participam na Bélgica de uma “marcha branca”, quando dois milhões de bascos protestam em praça pública contra os ataques do ETA, quando um milhão de alemães participam em Berlim de uma “passeata do amor”, quando um milhão de italianos demonstram em Milão que são contra a divisão do seu país, quando uma multidão inumerável reúne-se em Londres para o dia da Ascensão ao paraíso da Princesa Diana, a Madonna anterior dos tablóides e instantaneamente proclamada Santa e mártir quando morta, os sociólogos referem-se a “movimentos populares não identificados”. Essas reuniões enormes, mais ou menos espontâneas, realmente representam o tipo de manifestação que corresponde ao mundo da internet.

Além das óbvias diversidades de motivações, tudo isso é um fenômeno único: formas de afirmação pós-modernas de um sentimento, uma crença ou estilos de vida compartilhados, situadas dentro da tendência atual de afirmação de identidades comunitárias, que vão além dos limites das pertenças habituais.

 Assim, os fluxos substituem territórios em toda parte.

A internet é apenas a forma mais visível dessa desterritorialização. Estamos apenas no início de um fenômeno, e quem acredita que pode ser reversível a curto prazo provavelmente está errado. O advento do mundo da internet é uma questão desafiadora. O estado de amanhã vai depender da forma como será capaz de dar-lhe uma resposta.


nº 208 do Diorama – Novembro de 1997

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sobre as Entesposas


“_É uma história muito triste e estranha _ continuou ele depois de uma pausa. _ Quando o mundo era jovem, e as florestas eram vastas e selvagens, os ents e as entesposas _ e havia entezelas naquela época: ah! como era adorável Fimbrethil, Pé-de-fada, a dos passos leves, nos dias de minha juventude! _, eles andavam juntos e moravam juntos, mas nossos corações não continuaram crescendo do mesmo modo: os ents devotavam seu amor a coisas que encontravam no mundo, e as entesposas devotavam o seu a outras coisas; pois os ents emavam as grandes árvores e as florestas, e as encostas de colinas altas, e bebiam das nascentes das montanhas, e só comiam frutas que as árvores deixavam cair em seu caminho; e aprenderam com os elfos e conversavam com as árvores. Mas as entesposas se dedicaram a árvores menores, e a campinas ao sol além dos pés das florestas; viram o abrunheiro nas moitas e a macieira selvagem e a cerejeira florescendo na primavera; e as ervas verdes nas terras banhadas pela água e a grama deiscente nos campos durante o outono. Não desejavam conversar com esses seres, mas eles desejavam ouvi-las e obedecer ao que lhe diziam. As entesposas ordenaram que crescessem conforme seus desejos, e que produzissem folhas e frutos como queriam; pois as entesposas desejavam a ordem, muita ordem, e paz (que para elas queria dizer que as coisas deviam permanecer como elas as tinham colocado). Então as entesposas fizeram jardins nos quais pudessem morar. Mas nós, ents, continuamos vagando, e só íamos aos jardins de vez em quando. Então, quando a Escuridão chegou ao Norte, as entesposas atravessaram o Grande Rio, e fizeram novos jardins, e araram novos campos, e nós a víamos com menos frequência. Depois que a Escuridão foi derrotada, a terra das entesposas floresceu ricamente, e seus campos ficaram cheios de trigo. Muitos homens aprenderam os ofícios das entesposas e prestavam grandes honras a elas; mas nós ficamos sendo para eles apenas uma lenda, um segredo no coração da floresta. Mas ainda estamos aqui, enquanto que os jardins das entesposas estão abandonados: os homens os chamam agora de Terras Castanhas."


"_Lembro-me de que foi há muito tempo _ na época da guerra entre Sauron e os Homens do Mar _ que me veio o desejo de rever Fimbrethil. Ela ainda era muito bela aos meus olhos, da última vez que a vira, embora se parecesse pouco com a entezela de antigamente. Pois as entesposas estavam curvadas e escurecidas devido ao trabalho; seus cabelos ficaram ressecados pelo sol, assumindo a tonalidade do trigo maduro, e suas faces ficaram como maçãs vermelhas. Apesar disso, os olhos ainda eram os olhos do nosso próprio povo. Atravessamos o Anduin e chegamos e chegamos à terra delas; mas encontramos um deserto: estava tudo queimado e arrancado, pois a guerra passara por ali. Mas as entesposas não estavam lá. Por muito tempo chamamos, e por muito tempo procuramos, e perguntávamos a todas as pessoas que encontrávamos para onde as entesposas tinham ido. Alguns diziam que nunca as tinham visto; outros diziam que elas tinham sido vistas caminhando para o oeste, e outros ainda diziam para o leste, e outros diziam para o Sul. Mas em nenhum lugar a que fomos pudemos encontrá-las. Nossa tristeza foi muito grande. Mas a floresta selvagem chamou e retornamos a ela. Por muitos anos mantivemos o costume de sair de vez em quando para procurar as entesposas, andando por todo canto e chamando-as por seus belos nomes. Mas conforme o tempo passou íamos cada vez com menos frequência , e cada vez menos longe. E agora as entesposas são para nós apenas uma lembrança, e nossas barbas estão longas e cinzentas. Os elfos fizeram muitas canções sobre a busca dos ents, e algumas delas passaram para a língua dos homens. Mas nós não fizemos canção alguma sobre o assunto, ficando satisfeitos em cantar seus belos nomes quando pensávamos nas entesposas. Acreditamos que ainda podemos encontrá-las num tempo que virá, e talvez encontremos em algum lugar uma terra onde possamos viver juntos, ficando todos satisfeitos. Mas pressentimos que isso só acontecerá quando ambos, ents e entesposas, tiverem perdido tudo o que têm agora. E é bem possível que a hora esteja finalmente se aproximando. Pois, se Sauron destruiu todos os jardins antigamente, hoje o Inimigo tende a arruinar todas as florestas.”




Senhor dos Anéis - As Duas Torres (Livro III); capítulo IV - Barbárvore

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Como o Casamento Deveria Ser

Por Anthony M. Ludovici


Ao escolher um companheiro, uma das primeiras questões consideradas é; meu companheiro deve ser igual ou diferente de mim?

O que nós realmente encontramos os amantes fazendo quando eles desejam primeiramente convencer um ao outro de que amam, sem, no entanto, proferir as palavras fatais? Será que eles não sujeitam o outro a um exame rigoroso em relação a todos os seus hábitos da mente e do corpo, desde a literatura até o tipo de comida que cada um prefere?

‘Você gosta disso? Eu também!’ Esse é o incessante refrão alegre das primeiras conversas ardentes, quando cada um está secretamente desejando dizer ao outro que a chama do amor já foi acesa.

‘Que divertido, você gosta de comer casca de laranja! Eu também! Que estranho! Você gosta do Sankhayana-Brahmanas? Eu também!’ Etc.

Todos nós já tivemos tais conversas. Todos nós já mentimos sem escrúpulos na tentativa de manter os dois gostos absolutamente idênticos. E todos nós já ruborizamos no final, quando tornou-se claro para ambos que não havia um único ponto, exceto, talvez, no melhor material para calções, em que diferíamos.

O que isso significa? É muito profundo e muito inconsciente, porque todo mundo faz isso. Mesmo aqueles que conscientemente acreditam em casar com o oposto. Será que isso significa que há um instinto primitivo nos homens, assim como existe nos animais, de escolher seu semelhante e se alegrar quando ele for encontrado? E não é que toda essa catequização sobre gostos indica que também há um desejo de ter a certeza de que o instinto foi gratificado?

Os leitores podem objetar que isso é uma questão de pura cautela para determinar os gostos de uma pessoa com quem você talvez tenha que conviver. Mas é muito mais do que isso. Não é um exame para descobrir os gostos do parceiro em potencial. Isso é apenas incidental. É a expressão de um desejo de demonstrar que não importa se os gostos do parceiro em potencial são compartilhados com ele ou ela. Não é uma investigação na qual os gostos são aprovados ou reprovados, mas sim onde apenas a semelhança de gostos é aprovada. É o resultado de um motivo inconsciente, e não consciente. Porque muitas vezes, repito, aquele que se entrega a tal interrogatório, no próximo fôlego irá consciente e estupidamente declarar que não acredita na conveniência de gostos semelhantes em cônjuges e acha que a vida seria muito sem graça se todos pensassem igualmente , e assim por diante — de fato, a tagarelice habitual das condições sociais democráticas, discutidoras e inquietas. 

Presumo que este fogo do interrogatório, com a alegria que acompanha todas as provas de semelhança, é uma indicação de que sob o insalubre verniz democrático há um impulso natural que possuímos em comum com os animais, de buscar o nosso semelhante. E mesmo quando somos suficientemente equivocados para escolher um parceiro que é o nosso oposto, tentamos, pelo menos em espírito, estabelecer uma identidade de gostos e matriz comum. (A Escolha de um Companheiro, p. 43-4)

* * *

O que é a convicção mais íntima de um homem ou mulher que diz que se deve escolher o oposto?

Se a declaração é deliberada, e não dita de brincadeira, ou por meio de uma etiqueta popular impensadamente repetida, isso não indicaria um desejo de correção? Quer dizer, para a correção das próprias ações ou qualidades individuais, tanto físicas quanto psicológicas? E onde há um desejo para a correção, pode não haver desprezo por si mesmo, sentimentos de inferioridade — de fato, dúvidas quanto à conveniência de um modo geral?

Uma criatura orgulhosa das desejáveis ​​características adquiridas através de suas ações não procura um oposto, uma correção, pois seus filhos poderiam anular ou adulterar o seu objeto de orgulho. Por que deveria? De fato, como veremos em breve, parece ser um instinto enraizado em todos os animais sadios e nas raças humanas, para segregarem e se manterem distantes a partir do momento em que se distinguem do resto pela aquisição.

Somente o doentio, aquele que despreza a si mesmo, tem o instinto de solicitar uma correcção ou modificação no casamento. Daí provém, possivelmente, a popularidade da ideia de companheiros desiguais nos tempos degenerados. Essas pessoas, também, que sentem que estão muito deslocadas da média das pessoas ou da sua nação, e estão conscientes de serem estranhas, tenderão a procurar por meios de modificar suas excentricidades nos seus filhos ao escolher um companheiro que exibe características contrárias às suas próprias.

A pessoa mediana saudável, no entanto, tende a procurar um par igual e evitar o oposto, não apenas por instinto, mas conscientemente por um desejo de preservar sua qualidades conquistadas. Essa pessoa busca seu igual, além disso, porque se ele é um observador inteligente dos seus companheiros, sabe que há razões suficientes para discórdia no casamento sem multiplicá-las indevidamente pela seleção de um companheiro que, por morfologia e temperamento (ou seja, por fundamentos insuperáveis e não modificáveis​​), discordaria dele em centenas de coisas.

Aqueles que, neste contexto, argumentam que a vida é interessante pelas divergências, são românticos sem qualquer conhecimento da luz cruel que a intimidade derrama sobre a menor divergência do parceiro, e da exasperação que tais divergências costumam causar.

A vida de casado não é uma vida parlamentar. Não é uma instituição para desviar a nação com suas brigas. Debates e diferenças de opinião, especialmente aqueles baseados em diferenças psicofísicas, não costumam conduzir a muito entretenimento ou alegria na vida conjugal. É importante, portanto, além de quaisquer razões biológicas que podem ser apresentadas a seguir e apenas por causa da paz e durabilidade do afeto mútuo, escolher um parceiro igual para o relacionamento, embora isso possa parecer impopular nestes dias anárquicos e democráticos. (A Escolha de um Companheiro, p. 45-6)

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... Acho que esse costume a priori — na medida em que é harmonia social e ordem, saudável e duradouro — deve ser o produto de um homem ordenado, harmonioso e saudável.  E se eu voltar meus olhos do caos social de hoje para as origens das culturas mais harmoniosas e saudáveis​​, suponho sem inquérito que as pessoas que criaram essas culturas deveriam ser diferente de nós pelo menos no seguinte: elas eram harmoniosamente constituídas e vigorosamente saudáveis. Elas eram bonitas, harmoniosas e saudáveis; consequentemente, suas criações não deixavam de ser bonitas, harmoniosas e saudáveis.

Passando agora dessas conclusões a priori aos fatos, o que encontramos? Nós encontramos não apenas que essas culturas antigas eram realmente muito harmoniosas, mas também que seu vigor e poder devem ter sido muito grandes, por isso nossa cultura deve o pouco de beleza, harmonia e saúde que possui inteiramente a elas.

Um fato ainda mais interessante é que todas essas culturas surgiram em áreas naturalmente ou artificialmente confinadas, onde a tolerabilidade, a fraternidade universal da humanidade, o internacionalismo, o amor ao próximo e outras formas de declamações eram completamente desconhecidas. Encontramos essas culturas originalmente em ilhas como Creta e Japão; penínsulas como a Índia, Grécia e Itália; áreas naturalmente fechadas, como o Peru, a Mesopotâmia e o Egito e áreas artificialmente fechadas como a China e a antiga Palestina.

Além disso, sabemos que onde a relação com o mundo exterior, com o vizinho, é restringida, as pessoas isoladas são condenadas à endogamia — isto é, de qualquer modo, a uma forma de relação que une dois iguais. Nas únicas culturas que deixaram uma marca permanente no mundo encontramos, no entanto, não apenas a consanguinidade, mas também uma forte tendência consciente a manter distância e segregar. E isso causou, além de uma fronteira de preconceito e desconfiança entre a nação isolada e o mundo exterior, uma série de fronteiras dentro da própria nação, dividindo classes e castas, de modo que dentro da massa endogâmica, classes endogâmicas menores foram formadas. 

Era assim entre os egípcios, judeus, hindus e peruanos. Em todos esses casos, foi um instinto inconsciente de separar, ou um orgulho consciente de raça e de casta, que causou a segregação. O mesmo parece ter procedido entre os antigos habitantes das ilhas britânicas e seus invasores germânicos... Entre os principais povos responsáveis ​​pela nossa civilização — egípcios, judeus, gregos e saxões — a aversão ao estrangeiro era tão grande que, em alguns casos, sua própria palavra ao estrangeiro era uma palavra de opróbrio. E cada um desses povos não eram apenas endogâmicos, mas também incestuosos. (A Escolha de um Companheiro, p. 51-5)

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Aqueles que afirmam que as raças que são o resultado de um cruzamento, ou de vários cruzamentos, geralmente são superiores, pertencem também a essa parte do mundo moderno que, obcecada com o erro de que a consanguinidade é per se deletéria, imprudentemente assume que a exogamia ou reprodução mista deve ser necessariamente vantajosa.

Para dizer a verdade, todavia,... não há virtude essencial na reprodução mista. Essas qualidades desejáveis ​​ainda não presentes nas ações parentais não são suscetíveis de serem criadas por qualquer quantia de cruzamento ou recruzamento, enquanto aquelas que são, devem ser suscetíveis à atenuação e diluição. Mesmo quando a heterose produz qualidades favoráveis​​, é preciso lembrar que não são espontaneamente criadas pelo simples ato de cruzar apenas dois seres puros. Elas são apenas intensificações de qualidades pré-existentes.

Ninguém diria que os incessantes cruzamentos entre inúmeras raças que vêm acontecendo no Levante ou na América do Sul, desde que os antigos gregos e peruanos deixaram de existir, produziram nada assim tão desejável quanto esses dois povos puros produziam. Ninguém diria que a moderna América do Norte, com sua miscelânea de raças, é superior ao antigo Egito puro. Nem ninguém em sã consciência jamais esperaria algo como a grandeza dos Estados Unidos que o Egito é conhecido por ter alcançado.

Não pode, portanto, haver qualquer virtude no cruzamento per se, e aqueles que alegam que há virtude, falam sem autoridade e em contradição com os fatos reunidos. (A Escolha de um Companheiro, p. 118)



O Filósofo Perdido: O Melhor de Anthony M. Ludovici, ed. John V. Day (Berkeley, Cal.: ETSF, 2003)