Les Antigones (“As Antígonas”) é um grupo formado este
ano na França para se opor ao tipo de feminismo predominante na atualidade
(representado, no caso, pelo FEMEN) e reconfigurar a participação feminina no âmbito
político. Contra a teoria de gêneros e a ideia de que a mulher é oprimida pela
sociedade patriarcal contra a qual deve reagir com ódio e agressividade, “As
Antígonas”, inspiradas pelo personagem mitológico retratado por Sófocles,
acreditam que a mulher deve agir com amor e persistir em honra e retidão mesmo
quando a lei e os detentores do poder estão corrompidos, ressaltando a
importância da distinção e da colaboração complementar entre os sexos para a
construção de uma cultura saudável.
Trazemos
aqui a tradução do Manifesto publicado pelo Les
Antigones para que mais mulheres venham a conhecer esta iniciativa e possam
se inspirar em seus ideais:
Manifesto
Nós, Antígonas
queremos cumprir o papel de nosso futuro como mulheres. Nós pretendemos propor uma
lógica diferente desta que se ouve nas telas dos televisores. As mulheres não
são uma minoria oprimida, elas são a metade da humanidade! Nós não lutamos para
reivindicar novos direitos, nós lutamos muito pelo seguinte: queremos dar um
outro sentido ao engajamento das mulheres na Cité¹, com dignidade e responsabilidade.
Queremos
refletir sobre o que as mulheres podem levar à sociedade e não simplesmente
sobre o que pode ser tirado por elas. Desejamos abrir as portas que muitos
querem deixar fechadas. Temos muitas questões a debater, para as quais nós não
temos respostas prontas. Queremos responder juntas a todas as mulheres que
compartilham os nossos princípios e que se juntam à aventura das Antígonas. Que
cada uma se expresse, porque é em conjunto que nós elaboramos respostas
inovadoras e soluções construtivas para sair dos impasses nos quais estamos
hoje, a fim de construir livremente o nosso futuro.
As Antígonas
são um reagrupamento de mulheres que decidiram não sofrer mais. Este
reagrupamento é sem subordinação partidária ou confessional. Não pretendemos
representar todas as mulheres: nós somos as que querem entrar na Ágora para
intervir no debate público e agir socialmente.
Nós não nos
reconhecemos na visão que nos impõem a ideologia muito minoritária, mas
dominante nas esferas midiática e política: teoria do gênero e sextremismo. Se
a primeira ação das Antígonas era uma insurreição contra oFemen, nos opor a
elas não é a nossa finalidade. Queremos tomar uma parte ativa nos debates em torno
de questões que tocam à condição feminina: relações homens-mulheres, família,
condições de trabalho, cotas e paridade, mercantilização dos corpos e da
vida...
Nossos princípios
Nós,
Antígonas, exaltamos a feminilidade para as mulheres: é nossa natureza coerente
e profunda. A afirmação é o primeiro passo para enriquecer a sociedade com o
melhor de nós mesmas.
Em um mundo
onde reina o individualismo, muitos não se podem compreender plenamente. Ora,
cada uma entre nós leva em si a promessa de se tornar uma mulher completa e
engajada. As Antígonas propõem uma via ao porvir. As mulheres têm uma
sensibilidade diferente, uma vontade diferente, meios de ação diferentes dos
homens. Estas diferenças são uma riqueza a se cultivar e esta alteridade é
fecunda sobre todos os planos.Por isso, nós construímos nosso caminho sobre as
complementaridades dos sexos.
De fato, a mulher não é “um homem como os outros”.
Nós,
Antígonas, privilegiamos a legitimidade sobre a legalidade. Se as leis escritas
pelos homens ultrapassam as leis naturais – quer dizer as normas não escritas
que são a base da experiência humana –então, nós temoso dever de nos rebelar.
Não deixaremos enterrar a decência comum, o bom senso e a dignidade que
deveriam presidir às leis e às evoluções de nossa sociedade.
Nós,
Antígonas, exaltamos as liberdades. Neste mundo atomizadode mercado, onde os
indivíduos quase não têm mais relações, queremos levar uma palavra libertadora.
Nossa via se quer uma via fundamentalmente emancipatória. Nossa natureza
feminina, construtiva e voltada para a vida, nos leva a querer tecer um fio
social, essencial à liberdade e à solidariedade. Como escreveu Albert Camus: “Só
o amor nos leva a nós mesmos”.
As Antígonas (Les Antigones)
¹ Expressa a ideia de um grupo
manifesto, como uma comunidade política - quer dizer as mulheres como um grupo
componente da comunidade política.