quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

“Construção social”

por Denes Martos




O lugar onde nascem as crianças
e morrem os homens, onde a
liberdade e o amor florescem,
não é uma oficina nem um comércio nem uma fábrica.
Aí vejo a importância da família.
Os que falam contra a família
não sabem o que fazem,
porque não sabem o que desfazem.

Gilbert K. Chesterton


Economizai as lágrimas de vossos filhos
a fim de que possam regar com elas vosso túmulo.

Pitágoras




A condição humana tem sido desde sempre um tema muito controverso. Desde a noção de que o homem “é a medida de todas as coisas” até a do “junco pensante”; desde o ser criado à imagem e semelhança de Deus até a noção darwinista de considerá-lo como um mamífero com poucos pelos no corpo e caminhar ereto – ou seja: um animal meio raro, porém animal enfim e não muito diferente de todos os demais animais – o ser humano considerou-se a si mesmo de maneiras muito diferentes.

Nisto, como em várias outras coisas, talvez o erro que cometemos muitas vezes tenha sido o de voar tão alto com nosso intelecto que nos esquecemos do básico e depois, quando as alturas intelectuais rapidamente nos causam vertigem, voltamos à terra firme, mas renegando aqueles cumes aos quais nos havia elevado nossa capacidade de filosofar. Pode ser porque, no fundo, nos dá vergonha o medo que sentimos da vertigem naquele momento. Ou porque, nesse voo, ás vezes acabamos nos chocando contra os picos escarpados do impossível e até do ridículo.

É curiosa essa tendência ao “pêndulo” que parecemos ter. Na política vamos de “direitas” a “esquerdas” de época em época; de períodos das mais férreas ditaduras e até tiranias, a períodos da mais selvagem demagogia com anarquias próximas do caos total. Na moda feminina vamos de épocas em que o moralismo burguês considerava despudorada a exibição do mais inocente tornozelo, a épocas em que a nudez ou quase nudez se convertem em algo tão cotidiano que o que termina chamando atenção é um vestido excepcionalmente elegante. No social, vamos desde uma organização familiar moralmente hipócrita na qual se perdoam ao homem todos os “deslizes” enquanto à mulher não se admite nem uma saída à rua sem companhia, até épocas em que as mulheres assumem a liderança e acabam considerando a seus maridos como algo apenas um pouco mais interessante e útil que um assistente de eletrodomésticos.

A todos estes comportamentos humanos – ou pelo menos a uma grande parte deles – a intelectualidade pós-moderna os classificou com o rótulo de “construções sociais”. Assim, nos sugere que o comportamento humano é formado por “criações” artificiais perfeitamente prescindíveis e arbitrárias, por vezes inclusive intercambiáveis, que podem ser livremente suplantadas por outras, já que o importante é “ser feliz” e cada um pode tentá-lo da sua maneira, como lhe der na telha, ou simplesmente como puder, dadas as circunstâncias. 

E isso é mentira.

Para além de modas passageiras, nossos comportamentos morais, políticos, sociais e familiares básicos normais não são nem inteiramente arbitrários nem determinados pelo capricho de alguém ou de alguns. O que acontece é que, para compreender isso, é preciso ao menos a intenção de entender a condição humana.

Para começar, o ser humano não é, por certo, somente um animal. Mas é também um animal. Honestamente, não creio que os darwinistas radicais consigam jamais provar sua teoria de que toda a vida sobre este planeta surgiu por casualidade de uma célula que por pura casualidade se formou em uma espécie de “sopa” primordial que – também por casualidade – adquiriu umas misteriosas propriedades que permitiram à Dona Casualidade fabricar isso que chamamos de ser vivo. São casualidades demais para o meu gosto. Qualquer analista de risco pode confirmar que a sorte é um fator importante, mas que tem seus limites; mesmo considerando a Teoria do Caos.

De modo que a teoria darwinista da evolução – na medida em que trata de explicar o fenômeno de toda a vida em geral – tem sérias dificuldades para se sustentar e, em última instância, é bastante óbvio que não é mais que o obstinado intento de prescindir de um Criador. Mas isso não quer dizer, de modo algum, que a evolução – como fenômeno particular e específico – não exista. Qualquer pecuarista e qualquer agricultor sabem e podem demonstrar que as espécies variam e evoluem. Posso não crer em absoluto que você e eu sejamos descendentes dessa mítica ameba ancestral surgida de um capricho do azar faz algo assim como uns 4000 milhões de anos, mas isso não significa que o elefante atual e o mamute não sejam filogeneticamente aparentados. A origem casual da vida é uma teoria – e nada mais que uma teoria – que, todavia, tem que ser demonstrada já que se baseia em puras suposições, deduções e especulações; porém a evolução das espécies é um fenômeno comprovado e demonstrado até pelos floricultores japoneses.

Creio que não faltam provas para demonstrar que o ser humano, entre muitas outras coisas, também é um mamífero. A questão é que, em sua condição como tal, se acha sujeito às mesmas leis evolutivas que qualquer outro ser vivo. E não é assim desde ontem, mas há pelo menos 200.000 anos como Homo Sapiens e muito provavelmente desde cerca de 5.000.000 de anos como espécie Homo. A consequência óbvia disto é que o comportamento natural e normal da espécie não é nenhuma “invenção” do capricho humano.

Por exemplo, a família normal com pai, mãe e filhos, com suas hierarquias e papéis específicos, não é invenção de nenhuma Igreja; a sociedade burguesa não a inventou, nem o Renascimento, nem a Idade Média, nem os romanos ou os gregos. De fato, não a inventaram nem sequer os egípcios, os babilônios ou os sumérios. A organização familiar típica é o produto de milhões de anos de evolução. E o é pela simples razão de que constitui a melhor organização para o cuidado e educação da descendência. Se não fosse – entre outras coisas – pela família tradicional solidamente constituída, nosso parente Homo não haveria nunca chegado a ser Sapiens e terminaria sendo extinto como os australopitecos.

Simplesmente, acontece que não é qualquer organização familiar ou social que garante a sobrevivência e a evolução da espécie. Não é qualquer “combinação” de pais e prole que proporciona à progênie o quadro adequado para o desenvolvimento pleno de suas faculdades e potencialidades. E tanto esse quadro adequado quanto o comportamento que se requer para constituí-lo e mantê-lo não podem ser caprichosamente alterados com o argumento infantil de que já não temos que viver em cavernas nem lidar com lobos, leões ou tigres de Bengala. Crer que, porque não estamos expostos aos mesmos perigos que o homem de Cro-magnon, podemos nos dar ao luxo de descartar comportamentos e formas de convivência otimizadas por milhões de anos de experiência real, não somente é perigoso. É diretamente suicida.

Nosso ambiente atual apresenta tantos ou mais riscos do que aquele em que o Cro-magnon de 43.000 anos atrás vivia. A única diferença é que esses riscos são distintos. E nem sequer estou muito seguro de que sejam menos perigosos porque, enquanto os do Cro-magnon eram principalmente físicos e podiam ser evitados ou superados por meio da habilidade, da astúcia ou da força física, os atuais são muito mais sutis e devem ser enfrentados com as capacidades superiores da mente humana. Em outras palavras: se me questionassem um pouco mais a fundo, chegaria a dizer que atualmente nossos filhos necessitam de uma família bem constituída inclusive muito mais do que os do homem das cavernas. Os perigos aos quais nossos filhos estão expostos são muito mais insidiosos, enganosos e traiçoeiros que um lobo, um leão ou um tigre de Bengala.

As normas de comportamento que são exigidas de homens e mulheres para constituir a família normal e natural não são nenhuma “construção social”. Isso de família tradicional como uma “construção social” é mentira. É uma mentira por trás da qual não há mais que hedonismo, terror de assumir responsabilidades e aversão visceral a aceitar papéis complementares e especializados. É uma mentira que visa apresentar como inofensivos os desvios e degenerações que a mutação produz apenas esporadicamente ao longo e através de todo o universo dos seres vivos. Não é uma mentira que vá contra o moralismo burguês. É uma mentira que tenta apagar a verdade de milhões de anos de evolução da espécie. 

E tentar apagar isso é algo tão fatídico quanto seria tentar apagar de nosso DNA todas aquelas características que nos fazem humanos.



Fonte: http://denesmartos.blogspot.com.br/2014/11/mandato-cultural.html

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A fuga da dor como fuga da vida

por María del Prado Esteban

“Viver é lutar e a luta sempre é dolorosa.” Félix Martí Ibañez 


O uso de antidepressivos disparou em toda Europa, praticamente dobrou no último decênio. No Estado espanhol o consumo destes fármacos aumentou em 38%, porém o de hipnóticos e sedativos o fez em 66% e esse crescimento é, além disso, exponencial.

A utilização de psicotrópicos é especialmente aterradora entre as mulheres, ao menos 25% da população feminina toma algum narcótico para aliviar a dor de viver.

Não há dúvida de que a vida se tornou cada vez mais insuportável para um número crescente de pessoas e principalmente de mulheres. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Ministério de Sanidade e Consumo (Espanha), a depressão feminina passou de 6, 58% para 20, 49% entre 2003 e 2006. Isto quer dizer que o número de enfermas psíquicas [1] triplicou em apenas três anos, anos que foram, ademais, os das grandes campanhas institucionais a favor da mulher e da criação do primeiro Ministério da Igualdade.

O certo é que emerge uma nova personalidade débil, mole, egocentrada de forma narcisista, incoerente e minguada, cujas emoções não sustentam suas funções superiores, mas as anulam; que essa personalidade é muito mais comum entre o sexo feminino e que este sujeito, assim constituído, é um potencial viciado em substâncias psicoativas, sejam estas legais ou ilegais.

A verdade é, também, que tal indivíduo está sendo criado pela intervenção dos funcionários do Estado do bem-estar que incorporam cada vez mais pessoas ao seu protocolo de medicalização, convencendo assim seus pacientes que a vida não vale a pena ser vivida e que tudo o que podemos fazer é anestesiar o corpo [2] e a alma para não sofrer, não pensar e não sentir.

Enquanto as substâncias químicas nos envenenam o corpo, apareceu um novo mercado de narcóticos espirituais dirigidos de forma especial à população feminina, uma indústria que proporciona numerosos benefícios aos vendedores da cura milagrosa e da felicidade ao pé da letra. Cursos, oficinas e encontros que prometem uma beatífica apatia como paradigma da alegria e do otimismo. Estas drogas, tão nocivas como as primeiras, nos oferecem uma saída escapista da realidade e permitem que nossa vida autêntica siga se degradando enquanto fechamos os olhos e destruímos nosso mundo interior para converter-nos em autômatos sorridentes e apalermados, cegos frente ao horror da realidade circundante e à nossa própria condição.

Há uma grande tragédia na incapacidade moderna para a aceitação da dor, uma tragédia autêntica, porque esta fuga do mal-estar, paradoxalmente, aumenta até o infinito o padecimento pessoal e social. Renunciar ao sofrimento significa renunciar a muitas coisas fundamentais que dão sentido à vida. Significa:

1. A renúncia à consciência do mundo, da verdade e do real. O esforço para aproximar-se da verdade das coisas é amargo porque implica um trabalho árduo, ás vezes sobrehumano para superar as barreiras descomunais que o sistema impõe. A vitória sobre a mentira e o erro não é fácil nem cômoda, é dura e sofrida, nos condena a viver com consciência de nossas limitações e, muitas vezes, em meio a incertezas e dúvidas. Por outro lado, a defesa da verdade requer uma enorme dose de coragem e desprezo pela tranquilidade e pelo próprio bem-estar. Hoje, na sociedade da mentira obrigatória, os que lutam pela verdade estão condenados ao ostracismo, perseguição, opróbrio e humilhações sem limites. Quem quiser, pois, alcançar a realidade do mundo e tomar consciência da verdade das coisas, terá que aceitar a dor que isso traz.

2. Quem teme o sofrimento tem de renunciar ao amor. Todas as categorias de amor – o amor sexual, o amor maternal, o amor fraterno, o amor social, a amizade e o amor por convivência, todas – produzem em algum momento a angústia pela incompreensão, o medo da separação e do abandono, o sentimento de vulnerabilidade e dependência. Os vínculos e compromissos amorosos implicam esforço e sacríficio e a abnegação do interesse próprio. Se o amor é uma das experiências humanas mais sublimes e extraordinárias, não está isenta quase nunca, como tudo o que é sublime, do lado trágico. Nas condições atuais de destruição quase total das estruturas de vinculação e compromisso humano, a luta para reconstruir a convivência nos campos social e pessoal terá mais momentos dolorosos do que prazerosos.

3. Quem não está capacitado para o sofrimento não pode alcançar o conhecimento de si mesmo nem auto-construir-se como pessoa, porque todos somos seres divididos e o olhar dirigido ao nosso interior, se é valente e sincero, é doloroso. Quem não estiver disposto a aceitar a realidade de si mesmo por medo da angústia de ver seu lado obscuro, não pode desenvolver em si nem virtude nem excelência alguma, pois todo desenvolvimento implica negação, vazio e privação, e, portanto, desconforto. O medo da dor está nos convertendo em seres-nada esvaziados dos traços humanos de consciência, virtude, vontade e entrega.

4. Quem não está disposto ao sacrifício não pode resistir ao mal que avança inexorável em toda a sociedade, vê-se impelido a colaborar com ele ativa ou passivamente. Não pode, por isso, contribuir para a investida do bem, do justo, do belo e do sublime em todos os âmbitos da vida porque qualquer projeto de regeneração do humano implica em se expor a ser perseguido e intimidado em um tempo no qual o mal é forte e poderoso. Isso significa que quem não se sacrifica pelo bem do mundo está obrigado a viver dentro da iniquidade e a sofrê-la.

5. Tudo aquilo que é grande, transcendente, significativo, que tem projeção histórica, o que é valioso e excelente, é conflitivo e arriscado. Quem se acovarda perante a dor está condenado a viver no mesquinho e no insignificante, no cotidiano e banal, a entregar sua vida a atos inconsequentes e sem valor. Tudo o que é criativo, estético, belo e sublime exige um quinhão de padecimentos, a Arte com maiúscula desaparecerá de nossas vidas sufocada pelo bem-estar e, por conseguinte, estaremos obrigados a viver entre a fealdade e a aberração.

Sermos capazes de sofrer, mantermo-nos indiferentes diante da aritmética do prazer e do desprazer, é condição para a vida autêntica, para a liberdade e para a virtude pessoal. Esta capacidade hoje está desaparecendo da sociedade, mas de forma particular está sendo anulada entre as mulheres que somos conduzidas à uma deriva de estúpida harmonia interior que não é senão letargia e fraqueza diante do esforço de viver e de ser livres. Superar a dor da existência à base de drogas é o mesmo que renunciar à vida. Aqueles que nos vendem uma felicidade infalível e uma emancipação adulterada, sem luta, sem medo, sem suor e sem sangue, nos vendem uma mercadoria podre, simplesmente isso não existe.

***

[1] Pode entender-se este processo como um crescimento intenso do mal-estar objetivo e real das mulheres ou também como uma manobra das instituições de saúde para medicalizar e narcotizar as mulheres em massa com o pretexto de ajudá-las e protegê-las. Em minha opinião ambos os fatores se complementam e se potenciam um ao outro. 

[2] Nos EUA a morte de mulheres por abuso de analgésicos foi classificada por alguns especialistas como epidemia, a cada dia morrem 18 mulheres norte-americanas por essa causa e se considera que um a cada 10 suicídios tem relação com esse tipo de abuso.


domingo, 27 de abril de 2014

Levantar Peso Também é Assunto de Mulher!


Há muitas visões sobre o que pertence ao âmbito da feminilidade. Levantar pesos geralmente não é uma dessas coisas. Tradicionalmente, a fragilidade, delicadeza e suavidade são vistas como características do feminino, e a força, dureza e aspereza como características masculinas. Coisas que não podem coexistir. A maioria das pessoas imediatamente associam a prática de levantamento de pesos em suas diversas formas com o segundo grupo de termos.  "Ah, não, isso é uma coisa de homens. As mulheres não devem ser 'musculosas'."

Ao mesmo tempo, sempre se ouviu falar de mulheres fortes, valentes, poderosas e guerreiras. Desde as Valquírias até as onna-bugeishas, de Boudica a Rani Lakshmibai. Mulheres pegam em armas.

Mas seguindo com a tmática recorrente do blog, deparei-me com Atena e Ártemis.

Extraído da Wikipédia:

“Na mitologia grega, Atena é a deusa da guerra, civilização, sabedoria, estratégia, das artes, da justiça e da habilidade. Uma das principais divindades do panteão grego e uma dos doze deuses do Olimpo, Atena foi cultuada em toda Grécia Antiga e em toda sua área de influência… […] Assim como todas as outras divindades, que supostamente distribuíam as bençãos da natureza, era a protetora do crescimento das crianças, e como deusa do céu claro e ar fresco, dava saúde e afastava a enfermidade. [...] Como deusa sábia da guerra, também era a protetora de todos os heróis que se distinguiram pela sua prudência e bons conselhos, bem como por sua força e coragem, como Hércules, Perseu, Belerofonte, Aquiles, Jasão, Ulisses e Diomedes. Como deusa da guerra e protetora dos heróis, Atena aparece frequentemente com armadura, com a égide e um cajado dourado, com a qual otorga a seus favortias juventude e majestade."

"Na mitologia grega, Ártemis ou Artemisa [...] era a deusa grega da caça, animais selvagens, da terra virgem, dos nascimentos, da virgindade e das donzelas, que trazia e aliviava a doença em mulheres. É muitas vezes descrita como uma caçadora, carregando um arco e flechas. O cervo e o cipreste eram consagrados a ela. [...] Calímaco conta como Ártemis passou a infância buscando o necessário para ser uma caçadora, recebendo seu arco e flechas na ilha de Lipara, onde Hefesto e os Ciclópes trabalhavam. As filhas de Oceano estavam cheias de medo ao ver os ferreiros monstruosos, mas a jovem Ártemis bravamente se aproximou e solicitou suas armas."

As deusas gregas da guerra, caça, saúde e habilidade são mulheres. Eu não acho que isso é uma coincidência. Nós temos essas capacidades, que são inatas. Não somos bonecas frágeis, a menos que nos permitimos sê-las.

Eu vejo o progresso diário como uma necessidade. Pela prática constante de ações positivas, seguimos em frente afim de atingir um objetivo e atingir a excelência. Na mente, corpo e alma. É difícil não concordar com esses sentimentos gerais. No entanto, a ideia de possuir um corpo cultivado parece assustar a maioria das mulheres – elas pensam que se converterão imediatamente em enormes fisiculturistas. Por causa desses medos infundados, são privadas de uma melhora imensa em seu bem-estar.

Creio que é hora de esclarecer alguns mitos que cercam o exercício físico. Neste artigo de Nerd Fitness, vemos a história de uma jovem chamada Staci, que começou a levantar pesos com seriedade e transformou sua vida, seu corpo, sua mente, em todos os âmbitos, e hoje leva um estilo de vida infinitamente mais saudável.

Por que levantar pesos? Obviamente, não é a única maneira de alcançar o físico atlético e firme tão desejado que as modelos de fitness têm. Muitos esportes também conduzirão a esse resultado. Mas musculação é um dos meios mais práticos e simples. Não é a minha ideia sugerir que é necessário atingir os níveis de competição de elite nem transmitir esse nível de dedicação. Com um programa básico como Starting Strength (o recomendado para iniciantes), de três horas por semana e alguns movimentos básicos são mais que suficientes para obter os imensos benefícios dessa atividade. Deve-se segui-lo ao pé da letra, nada mais. Sim, é preciso levá-lo a sério. Nada de perder horas e horas sobre as bicicletas e ginástica localizada. Ao concentrar-nos em ser mais aptas fisicamente, mais fortes, nossos corpos adaptam-se à tarefa. Nossa rotina diária adapta-se a fim de alcançar a mudança. Nossa massa muscular cresce, a gordura é queimada. Levantando pesos ​​com poucas repetições gera músculo denso. A força que ganhamos é  transmitida para as tarefas da vida diária – cuidar da casa, carregar bolsas e correr atrás de um ônibus serão coisas simples em vez de nos fazer suar ou procurar ajuda de outros. Se a pessoa pratica esportes ou é dançarina, seu desempenho certamente melhorará com levantamento de pesos. Levantar pesos contribui para a densidade óssea e flexibilidade das articulações.

E o que ganhamos além disso? O treinamento obriga-nos a ter uma alimentação saudável e a dormir bem. Caso contrário, estaremos perdendo tempo, porque o nosso corpo não consegue recuperar-se do esforço ao qual o submetemos. O artigo propõe a dieta "Paleo", como a melhor opção, e apesar de estar de acordo por causa de seu alto potencial de saciedade, não é a única maneira de conseguir atingir uma alimentação saudável (pode ser relativamente cara – outros verão como mais simples seguir uma dieta tipo keto, outros acham melhor uma dieta com baixo teor de gordura). Sem seguir uma dieta tão estritamente, nada  melhor como comer alimentos naturais e inteiros – nada de lixos processados cheios de conservantes e açúcar –  e assegurar que a ingestão de proteínas é o ideal, além de controlar um pouco as porções e calorias consumidas (cerca de 1800-2000 por dia), cumprindo assim os requisitos. Mantendo esse nível de calorias, é impossível, repito, impossível de se tornar musculosa como um fisiculturista. Simplesmente, não temos o mesmo nível de hormônios no sangue que permitem os homens atingir esse físico – uma mulher deve incorporar muitas calorias e usar suplementos e drogas. Repito: ninguém vai ter um físico de competição "sem querer". Os músculos que geramos são os que temos a capacidade natural de gerar e controlamos eles através de uma dieta saudável. Os tecidos muscular e adiposo não são construídos do nada, você precisa consumir para permitir a formação. 

E também, necessitamos disciplina, consistência, capacidade de fixarmos objetivos a cumprir e tomar o caminho necessário para atingir esses objetivos – e para fazer correções se não observarmos resultados.
Começamos, então, a ver os benefícios – somos mais fortes porque levantamos pesos, mais saudáveis ​​porque comemos melhor e dormimos mais, mais disciplinadas e dedicadas porque essa atividade requer muitos meses, ou mesmo anos de esforço, mais sábias porque nos educamos e aprendemos a nos alimentar (e também a alimentar nossas famílias!), mais felizes por causa das endorfinas que o exercício produz. O corpo ganha uma aparência firme e com contornos como expressão de mudanças internas. O corpo, espírito e mente são melhorados. Isso tem um impacto positivo em todos os níveis de nossas vidas, as lições que aprendemos transformando nossos corpos podemos levar como lições para qualquer outra coisa – sem mencionar que o exercício pode ser uma excelente maneira de canalizar o estresse, a depressão, raiva e outras emoções negativas em algo positivo.

Essa foi minha experiência também, e depois de muito tempo lutando contra transtornos alimentícios e desgastando-me ao perguntar porque as horas e horas de esteira e as dietas que me deixavam passando fome não adiantavam, sentindo-me gorda e odiando o quanto eu estava fraca e deprimida por isso, descobri o erro dos meus métodos. A balança não te conta toda história: o ponto crucial está na composição do corpo e a musculação é o método mais simples de mudá-la. Por isso quero compartilhar isso com vocês.

Giuliana,
Círculo Atenea Argentina

quinta-feira, 6 de março de 2014

A terra dos Tzares em cores: fotografias da Rússia de um século atrás.


Fotografias surpreendentes, capturadas em cores vivas, mostram a vida na Rússia no início de 1900 quando o país estava à beira da Primeira Guerra Mundial - e da revolução.
[Imagens pelas lente e técnica de Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorskii, em visita a sua terra natal.]


The photographer was commissioned by Tsar Nicholas II to travel around Russia capturing images of the nation in the early years of the 1900s, in full colour


An Armenian woman in national costume poses for Prokudin-Gorsky on a hillside near Artvin (in present day Turkey)


In order to capture the scenes in colour, Prokudin-Gorsky had to take three photos, each time with a different colour filter over the lens, which meant that sometimes, when subjects moved, the colours would blur and distort - as seen in this image


Self-portrait: Prokudin-Gorsky's method resembles modern nature shots. He is pictured here surveying the Russian landscape


A group of women in Dagestan pose for a photo. Prokudin-Gorsky was charged with capturing the faces and landscapes of Russia


The extraordinary photos capture the landscapes of Russia at the beginning of the 20th century in vivid colour


Historical Russian photos by Sergey Prokudin Gorsky
Historical Russian photos by Sergey Prokudin Gorsky


Prokudin-Gorsky began implementing his three-colour method after studying under German photochemist Adolf Miethe


After leaving Russia in 1918, Prokudin-Gorsky moved to Germany, where he remarried and had a daughter, Elka. He then moved to Paris and was reunited with his first wife and three adult children, with whom he started a photography studio


The tsar granted Prokudin-Gorsky access across the nation and provided with a railway car equipped with a dark room


Prokudin-Gorsky was one of the most famous photographers in Russia at the beginning of the 20th century


A group of Jewish children with their teacher: The vivid colours in the boys' coats are preserved for the historical record due to Sergey Prokudin-Gorsk's three-colour method



Boathouse: Prokudin-Gorsky took photos of the country as it was about to enter WWI and then a revolution. But he still captured moments of tranquility and beauty


Historical Russian photos by Sergey Prokudin Gorsky
Historical Russian photos by Sergey Prokudin Gorsky


Two parents and their three daughters rest in a field as the sun sets, their agrarian way of life would be ruthlessly shut down in coming decades, as forced industrialisation occurred across the nation


After the revolution in 1917, the photographer was offered the position of professor at a university, but left the country a year later. He moved to Germany and then to Paris


A man moulds an artistic casting. This photo, taken in the Kasli Iron Works in 1910, comes from the album Views in the Ural Mountains, survey of industrial area, Russian Empire


Historical Russian photos by Sergey Prokudin Gorsky
Historical Russian photos by Sergey Prokudin Gorsky


Russian church: A view of the Nikolaevskii Cathedral  in Mozhaisk in 1911


The photographer (front right) poses on a handcar outside Petrozavodsk on the Murmansk railway along Lake Onega


Can't sit still: This image shows how difficult it was to capture colour at the time. If any of the children moved while the three different photographs were taken the colour would blur


Sergey Prokudin-Gorsky was one of the most famous photographers in Russia at the time. He was the editor of the country's leading photographic journal and continued to contribute to journals around the world once he left Russia


A wealthy woman poses outdoors on a magnificent rug in a richly ornamented outfit and headdress


Here, Sergey has captured a Sart woman in Samarkand, Uzbekistan. Until the Russian revolution of 1917, ¿Sart¿ was the name for Uzbeks living in Kazakhstan

A shepherd boy on the Sim River in the Ural Mountains is pictured here, resting in 1910


Almost half of the negatives produced by the photographer during his tour of Russia were confiscated when he left the country after the Russian revolution


Workers and supervisors pose for a photograph amid preparations for pouring cement for sluice dam foundation across the Oka River near Beloomut in 1912

The pictures show the diversity of the Russian landscape at the beginning of a tumultuous century for the nation


Prokudin-Gorsky died in Paris in 1944, a month after the city was liberated from Nazi occupation


Rural scene: A group of people rest in the middle of a field. They have a tea pot and refreshments and look like they have stopped for a picnic or lunchbreak


Fonte:
Mail Online [ 
Land of the Tzars in colour: Fascinating photographs show the people and places of pre-revolutionary Russia]

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Contos e Iniciação

Por Mircea Eliade*


               
                  A coexistência, a contemporaneidade dos mitos e dos contos nas sociedades tradicionais, suscita um problema delicado mas não insolúvel. Pode-se pensar nas sociedades do Ocidente medieval, em que os místicos autênticos se encontravam submersos na massa dos simples crentes e mesmo misturados a alguns cristãos cuja falta de devoção chegara a um ponto tal, que não mais participavam do cristianismo, senão exteriormente. Uma religião é sempre vivida – ou aceita e suportada – em diversas gradações; mas, entre esses diferentes planos de experiência, há equivalência e homologação. A equivalência se mantém mesmo após a “banalização” da experiência religiosa, após a (aparente) dessacralização do mundo. (Para nos convencermos, basta analisar as valorizações profanas e científicas da “Natureza”, depois de Rousseau e da filosofia do iluminismo). Hoje, entretanto, reencontramos o comportamento religioso e as estruturas do sagrado – figuras divinas, gestos exemplares, etc. – nos níveis profundos da psique, no “inconsciente”, nos planos do onírico e do imaginário. 

                Isso suscita um outro problema, não mais de interesse do folclorista ou do etnólogo, mas que preocupa o historiador das religiões e que acabará por interessar o filósofo bem como, possivelmente, o crítico literário, pois também diz respeito, se bem que indiretamente, ao “nascimento da literatura”. Embora, no Ocidente, o conto maravilhoso se tenha convertido há muito tempo em literatura de diversão (para as crianças e os camponeses) ou de evasão (para os habitantes das cidades), ele ainda apresenta a estrutura de uma aventura infinitamente séria e responsável, pois se reduz, em suma, a um enredo iniciatório: nele reencontramos sempre as provas iniciatórias (lutas contra o monstro, obstáculos aparentemente insuperáveis, enigmas a serem solucionados, tarefas impossíveis, etc.), a descida ao Inferno ou a ascensão ao Céu (ou – o que vem a dar no mesmo – a morte e a ressurreição) e o casamento com a Princesa. É verdade, como justamente salientou Jan de Vries, que o conto sempre se conclui com um final feliz. Mas seu conteúdo propriamente dito refere-se a uma realidade terrivelmente séria: a iniciação, ou seja, a passagem, através de uma morte e ressurreição simbólicas, da ignorância e da imaturidade para a idade espiritual do adulto. A dificuldade está em determinar quando foi que o conto iniciou sua carreira de simples história maravilhosa, decantado de toda responsabilidade iniciatória. Não se exclui, ao menos para certas culturas, que isso se tenha produzido no momento em que a ideologia e os ritos tradicionais de iniciação estavam em vias de cair em desuso e em que se podia “contar” impunemente aquilo que outrora exigia o maior segredo. Não é de todo certo, entretanto, que esse processo tenha sido geral. Em grande número de culturas primitivas, nas quais os ritos de iniciação permanecem vivos, as histórias de estrutura iniciatória são igualmente contadas, e o vem sendo há longo tempo. 

                Poder-se-ia quase dizer que o conto repete, em outro plano e através de outros meios, o enredo iniciatório exemplar. O conto reata e prolonga a “iniciação” ao nível do imaginário. Se ele representa um divertimento ou uma evasão, é apenas para a consciência banalizada e, particularmente, para a consciência do homem moderno; na psique profunda, os enredos iniciatórios conservam sua seriedade e continuam a transmitir sua mensagem, a produzir mutações. Sem se dar conta e acreditando estar se divertindo ou se evadindo, o homem das sociedades modernas ainda se beneficia dessa iniciação imaginária proporcionada pelos contos. Caberia então indagar se o conto maravilhoso não se converteu muito cedo em um “duplo fácil” do mito e do rito iniciatórios, se ele não teve o papel de reatualizar as “provas iniciatórias” ao nível do imaginário e do onírico. Esse ponto de vista surpreenderá somente aqueles que consideram a iniciação um comportamento exclusivo do homem das sociedades tradicionais. Começamos hoje a compreender que o que se denomina “iniciação” coexiste com a condição humana, que toda existência é composta de uma série ininterrupta de “provas”, “mortes” e “ressurreições”, sejam quais forem os termos de que se serve a linguagem moderna para traduzir essas experiências (originalmente religiosas).



*Trecho retirado do livro Mito e Realidade, Apêndice I, “Os Mitos e os Contos de Fadas”.