terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sobre a Liberdade

Por Friedrich Nietzsche


Meu conceito de liberdade. — O valor de uma coisa às vezes não está no que se alcança, mas no que se paga  — no quanto isso custa. Vou dar um exemplo.  As instituições liberais deixam de ser liberais assim que são instituídas: não existem piores mutiladores da liberdade do que as instituições liberais. Seus efeitos são muito bem conhecidos: elas minam a vontade de poder; nivelam montanha e vale, e chamam a isso de moral; fazem dos homens pequenos, covardes e hedonistas — em todas as vezes é o animal de rebanho que triunfa com eles. Liberalismo: em outras palavras, animalização de rebanho.

Essas mesmas instituições produzem efeitos bem diferentes, enquanto ainda estão disputando; então elas realmente promovem a liberdade de uma maneira poderosa. Em uma análise mais aprofundada, é a guerra que produz esses efeitos, a guerra para as instituições liberais, a qual, como uma guerra, permite instintos não-liberais para continuar. E a guerra educa para a liberdade. Pois o que é a liberdade? Aquilo pelo qual se tem vontade de assumir a responsabilidade por si mesmo. Aquilo que mantém a distância que nos separa. Aquilo que nos torna mais indiferentes às dificuldades, sofrimentos, privações, e até mesmo à própria vida. Aquilo que é preparado para sacrificar os seres humanos para sua causa, não excluindo a si mesmo. Liberdade significa que os instintos viris, que se deliciam com a guerra e a vitória, dominam sobre os outros instintos, por exemplo, sobre os instintos do prazer. O ser humano que se tornou livre — e quanto mais o espírito que se tornou livre — cospe no tipo desprezível de bem-estar sonhado pelos lojistas, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas. O homem livre é um guerreiro.

Como a liberdade é medida entre os indivíduos e povos? De acordo com a resistência que deve ser superada, de acordo com o esforço necessário para se manter no topo. O tipo mais elevado de homens livres deve ser buscado onde a máxima resistência é constantemente superada: a cinco passos da tirania, perto do limiar do perigo de servidão. Isso é verdade, psicologicamente, se por “tiranos” são pretendidos instintos inexoráveis ​​e temíveis que provocam o máximo de autoridade e disciplina contra eles mesmos; o tipo mais bonito: Júlio César. Isso também é verdade politicamente, basta percorrer a história. Os povos que tinham algum valor, atingiram esse valor, nunca alcançaram-no sob instituições liberais: foi o grande perigo que fez com que merecessem respeito. O perigo sozinho familiariza-nos com nossos próprios recursos, nossas virtudes, nossa armadura e armas, nosso espírito, e nos obriga a sermos fortes. Primeiro princípio: devemos ter a necessidade de nos tornarmos fortes— caso contrário, nunca seremos fortes.

Aquelas grandes estufas para o forte — para tipo o mais forte de ser humano que até agora foi conhecido — as repúblicas aristocráticas do tipo Roma ou Veneza, entenderam liberdade exatamente no sentido que eu entendo: como algo que se tem ou não tem, algo que se quer, algo que se conquista.



“Escaramuças de um Homem Intempestivo, seção 38 Crepúsculo dos Ídolos
Traduzido por Trebaruna em 08/02/2013 

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