segunda-feira, 1 de julho de 2013

MULHERES, HOMENS E CRIANÇAS DE ESPARTA.


Por Marilyn A. Katz.


A sociedade espartana, segundo as nossas fontes antigas, quase exclusivamente não espartanas, era notoriamente militarista e de regulamentos rígidos. Um sistema estrito de faixas etárias (agôgê ou “educação”), que data tradicionalmente da época do lendário legislador Licurgo, separava os meninos dos 7 aos 17 anos (paides ou “meninos”), que aprendiam a dançar e cantar, de outro grupo, dos 18 aos 19 anos (paidiskoi ou “meninos mais velhos”), cujo treinamento incluía técnicas de sobrevivência, e ainda outro, dos de 20 aos 29 anos (hêbôntes, ou “rapazes”), que passavam por uma rigorosa doutrinação militar. Os jovens adultos espartanos (hêbontes) eram cidadãos plenos e esperava-se ou exigia-se que casassem.
A partir do período inicial da agôgê, os meninos espartanos viviam em casernas, separados das famílias e, quando adultos, todos os cidadãos do sexo masculino pertenciam às syskania, ou “acampamentos”, pequenos grupos que se encontravam e comiam em comunidades e moravam em casas masculinas independentes.
Os perioikoi (habitantes da periferia) da Lacedemônia, que constituíam a população livre da Lacônia e da Messênia que viviam fora de Esparta, eram obrigados a se habilitar ao serviço militar, mas eram excluídos dos privilégios da cidadania, que incluía ser membro da assembleia e ter o direito de ser eleito para a ephorate, a magistratura civil de cinco membros. Já que os cidadãos espartanos eram proibidos de se dedicar a atividades mercantis, a administração do comércio e da manufatura ficava nas mãos dos perioikoi.
Os hilotas, a população servil de Esparta, eram gregos e pertenciam à comunidade espartana como um todo, e os éforos declaravam-lhes guerra anualmente. Os hilotas forneciam o volume de produtos agrícolas dos quais o resto da população dependia e assim formavam uma população permanente de servos. Os da Messênia (região sudoeste do Peloponeso) se envolviam em revoltas periódicas.
Uma forma diferente de treinamento físico para meninas espartanas aparentemente se concentrava na ginástica, no canto coral e na dança. Segundo Xenofonte, o objetivo do treinamento da mulher espartana era prepara-la para ser mãe de guerreiros, ele registra que Licurgo “instituiu competições de corrida e força física para mulheres e para homens, acreditando que, se os pais fossem ambos fortes, produziam rebentos mais vigorosos”. Xenofonte também diz que Licurgo considerava que seria melhor deixar para as escravas o trabalho com a lã e a vida sedentária a ele associada em outras cidades-estados. Mas na Élida, outra polis do Peloponeso, um grupo de “dezesseis mulheres” recebeu a honra de tecer um peplo que foi apresentado à deusa Hera nas Heraias, festivais dedicados a essa deusa, análogos às Panatenéias atenienses. As mesmas mulheres administravam os jogos em homenagem a hera, corridas de meninas por faixa etária, e supervisionavam as danças corais das meninas em homenagem à deusa. As donzelas vitoriosas nas corridas eram homenageadas com coroas de oliveira, com uma participação privilegiada na cerimônia do sacrifício e com o direito de ofertarem estátuas inscritas com o seu próprio nome.

A taça ilustrada comemora uma vitória diferente: a da habilidade no trabalho com a lã. Era um prêmio conquistado numa competição de carda para meninas, que exigia velocidade e destreza em desemaranhar e extrair fibras de lã (ver pp. 160 e 161). Essa taça, do final do século VI, provém de Tarento, colônia espartana do sul da Itália, conhecida pelos belos trabalhos de tecelagem e de lã; é uma taça para se beber, decorada com grandes olhos e cenas de batalhas. Talvez a conjunção desses temas pretenda sugerir o destino que podem esperar as mulheres que não apoiam os filhos e maridos guerreiros, limitando-se às ocupações femininas convencionais.

Mas, tradicionalmente, as mulheres espartanas desdenhavam a tecelagem e as ocupações sedentárias. Por exemplo, entre os ditos atribuídos por Plutarco às espartanas, inclui-se a seguinte resposta de uma espartana a uma jônica que demonstrava orgulho pela sua tecelagem, apontando para os seus quatro filhos, bem comportados: “Essa deveria ser a ocupação de uma mulher boa e nobre, e dela tal mulher deveria extrair alegria e orgulho.” (Moralia)





Marilyn A. Kantz. [Trecho do] capítulo 5: Mulheres, crianças e homens.
IN: Paul Cartledge (org.), História Ilustrada da Grécia antiga. págs 192 e 193.

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