domingo, 16 de fevereiro de 2014

“Nós vivemos na Era do Fim” – Uma entrevista com Dari Dugina

O Open Revolt tem muito prazer em apresentar uma conversa entre Dari Dugina da União da Juventude Eurasiana e nosso colaborador James Porazzo.

Dari, a filha de Alexander Dugin, além de seu trabalho na União da Juventude Eurasiana, dirige o projeto “Europa Alternativa” para o Global Revolutionary Alliance.

            Dari, você é uma Eurasianista da segunda geração, filha do nosso mais importante pensador e líder, Alexander Dugin. Você se importa em dividir conosco os seus pensamentos sobre ser uma jovem militante nessa altura da Kali Yuga?

            Nós vivemos na era do fim – este é o fim da cultura, da filosofia, da política, da ideologia. Este é o tempo sem movimento real; a sombria profecia de Fukuyama sobre o “fim da história” torna-se uma espécie de realidade. Essa é a essência da Modernidade, da Kali Yuga. Nós estamos vivendo no momento do Finis Mundi. A chegada do Anticristo está nessa agenda. A noite exaustiva e profunda é o reino da quantidade, mascarado por conceitos tentadores como o Rizoma de Gilles Deleuze: os pedaços do Sujeito moderno se transformam na “presidenta” do filme “Tokyo Gore Police” (filme pós-moderno japonês) – o indivíduo do paradigma moderno se transforma nos pedaços do divíduo. “Deus está morto” e seu lugar é ocupado pelos fragmentos do indivíduo. Mas se nós fizermos uma análise política, vamos descobrir que essa nova condição do mundo é o projeto do liberalismo. As ideias extravagantes de Foucault, aparentemente revolucionárias em seu pathos, depois de uma análise mais escrupulosa mostram sua base conformista e (secretamente) liberal, que vai contra a hierarquia tradicional de valores, estabelecendo uma “nova ordem” pervertida na qual o topo é ocupado pelo indivíduo que cultua a si mesmo em sua decadência atomista. É difícil lutar contra a modernidade, mas certamente é insuportável viver nela – concordar com esse estado de coisas onde todos os sistemas estão transfigurados e os valores tradicionais tornaram-se uma paródia, purgados e ridicularizados em todas as esferas de controle sob os paradigmas modernos. Este é o reino da hegemonia cultural. E esse estado do mundo nos incomoda. Lutamos contra ele – pela ordem divina, pela hierarquia ideal. No mundo moderno o sistema de castas está completamente esquecido e transformado em uma paródia. Mas ele tem um ponto fundamental. Na república de Platão – lá está um pensamento muito interessante e importante: as castas e a hierarquia vertical na política são simplesmente o reflexo do mundo das ideias e do bem superior. Este modelo de política manifesta os princípios metafísicos básicos do mundo normal (espiritual). Com a destruição do sistema primordial de castas na sociedade, a dignidade do ser divino e sua Ordem são negadas. Renunciando ao sistema de castas e à ordem tradicional, brilhantemente descritos por Dumézil, nós prejudicamos a hierarquia de nossa alma. Nossa alma nada mais é do que o sistema de castas com uma ampla harmonia de justiça que une as três partes da alma (a filosófica – o intelecto, o guardião – a vontade, e os comerciantes – o desejo). Lutando pela tradição nós estamos lutando por nossa profunda natureza como criaturas humanas. O homem não é algo dado – ele é o objetivo. E nós estamos lutando pela verdade da natureza humana (ser humano é buscar a sobrehumanidade). Isto pode ser chamado guerra santa.

            O que a Quarta Teoria Política significa para você?

            Ela é a luz da verdade, de algo raramente autêntico nos tempos pós-modernos. É a ênfase correta nos graus da existência – os acordes naturais das leis do mundo. Ela é algo que cresce sobre as ruínas da experiência humana. Não pode haver sucesso sem as primeiras tentativas – todas as ideologias passadas continham em si mesmas aquilo que causou seu fracasso.

            A Quarta Teoria Política – este é o projeto das melhores partes da ordem divina que podem se manifestar em nosso mundo – do liberalismo tomamos a ideia de democracia (mas não em seu significado moderno) e liberdade no sentido evoliano; do comunismo aceitamos a ideia de solidariedade, anticapitalismo, anti-individualismo e a ideia de coletivismo; do fascismo tomamos o conceito de hierarquia vertical e a vontade de poder – o código heroico do guerreiro Indo-europeu.

            Todas estas ideologias passadas sofreram de graves deficiências – democracia com o acréscimo de liberalismo virou tirania (o pior tipo de regime segundo Platão), o comunismo defendeu um mundo tecnocêntrico sem tradições nem origens, o fascismo seguiu uma orientação geopolítica errada e o seu racismo era Ocidental, Moderno, liberal e antitradicional.

            A Quarta Teoria Política é a transgressão global destes defeitos – o desenho final da história futura (e em aberto). É o único caminho para defender a verdade.

            Para nós, a verdade é o mundo multipolar, a florescente variedade de diferentes culturas e tradições.

            Nós somos contra o racismo, contra o racismo cultural e estratégico da civilização ocidental moderna dos Estados Unidos, que é perfeitamente descrita pelo professor John M. Hobson em “A concepção Europocêntrica da política mundial”. O racismo estrutural (aberto ou subliminar) destrói a encantadora complexidade das sociedades humanas – primitivas ou complexas.

            Você encontra desafios específicos em ser tanto uma jovem mulher quanto uma ativista nessa época?

                Essa guerra espiritual contra o mundo (pós) moderno me dá a força para viver.

            Eu sei que estou lutando contra a hegemonia do mal pela verdade da Tradição eterna. Ela está obscurecida agora, não completamente perdida. Sem ela nada poderia existir.

            Eu penso que ambos os gêneros e qualquer idade têm suas formas de acessar a Tradição e seus modos de desafiar a Modernidade.

            Minha prática existencial é abdicar da maioria dos valores da juventude globalista. Eu penso que precisamos ser diferentes desse lixo. Não acredito em coisa moderna alguma. A Modernidade está sempre errada.

            Eu considero o amor uma forma de iniciação e realização espiritual. E a família deve ser a união de pessoas espiritualmente similares.

            Além do seu pai, obviamente, quais outros autores você sugeriria aos jovens militantes que queiram aprender mais sobre nossas ideias?

            Eu recomendo que se familiarizem com os livros de René Guenón, Julius Evola, Jean Parvulesco, Henri Corbin, Claudio Mutti, Sheikh Imran Nazar Hosein (tradicionalismo); Platão, Proclo, Schelling, Nietzsche, Martin Heidegger, E. Cioran (filosofia); Carl Schmitt, Alain de Benoist, Alain Soral (política); John M. Hobson, Fabio Petito (Relações Internacionais); Gilbert Durand, G. Dumézil (sociologia). O kit básico de leitura para nossa revolução intelectual e política.

            Você passou agora algum tempo vivendo na Europa Ocidental. Como você compararia o estado do Oeste ao do Leste, depois dessa experiência em primeira mão?

            De fato, antes da minha chegada à Europa eu pensava que esta civilização estava absolutamente morta e que nenhuma revolta seria possível lá. Eu comparava a Europa moderna liberal à alguém atolado em um pântano, sem possiblidade de protesto contra a hegemonia do liberalismo.

            Lendo a imprensa estrangeira européia, vendo os artigos com títulos como “Putin – o satã da Rússia” / “a vida luxuosa do pobre presidente Putin” / “Pussy Riot – as grandes mártires da apodrecida Rússia” – essa ideia estava quase confirmada. Mas depois de algum tempo eu encontrei alguns grupos políticos antiglobalistas e movimentos da França – como o Égalité & Réconciliation, Engarda, Fils de France, etc – e tudo mudou.

            Os pântanos da Europa se converteram em algo mais – com a possibilidade oculta de revolta. Eu encontrei a “outra Europa”, o “alternativo” Império oculto, o pólo geopolítico secreto.

             A verdadeira Europa secreta devia ser despertada para lutar e destruir sua réplica liberal.

          Agora eu estou absolutamente certa de que existem duas Europas, absolutamente diferentes – a liberal e decadente Europa Atlantista e a Europa alternativa (antiglobalista, antiliberal, orientada à Eurásia).

         Guenón escreveu em “A Crise do Mundo Moderno” que nós devemos distinguir entre ser antimoderno e ser antiocidental. Ser contra a modernidade é ajudar o Ocidente em sua luta contra a Modernidade, a qual é construída sobre códigos liberais. A Europa tem sua própria cultura fundamental (eu recomendo o livro de Alain de Benoist – “As tradições da Europa”). Então eu encontrei essa Europa alternativa, secreta, poderosa, Tradicionalista e eu coloco as minhas esperanças em seus guardiões secretos.

            Em outubro nós organizamos com o Égalité & Réconciliation uma conferência em Bordeaux com Alexander Dugin e Christian Bouchet, a sala era enorme e mesmo assim os lugares não foram suficientes para todos os que queriam assistir a essa conferência.

            Isso mostra que algo está começando a se mover...

            A respeito de minhas opiniões sobre a Rússia – eu tenho notado que a maior parte dos europeus não confia nas informações da mídia – e o interesse pela Rússia vem crescendo – vê-se pelo modo como aprendem Russo, assistem a filmes soviéticos e muitos europeus entendem que a mídia da Europa está totalmente influenciada pelo Leviatã hegemônico, a máquina de mentiras globalista e liberal.

            Então as sementes do protesto estão no solo, com o tempo elas vão brotar, destruindo a “sociedade do espetáculo”.

            Sua família inteira é uma grande inspiração cá para nós do Open Revolt e do New Resistance. Você tem uma mensagem para os seus amigos e camaradas na América do Norte?

            Eu realmente não posso deixar de admirar seu trabalho revolucionário intensivo! A maneira pela qual vocês estão trabalhando – através dos meios de comunicação – é a forma de matar o inimigo “por seu próprio veneno”, usando a estratégia da guerra de redes. Evola falou sobre isso em seu excelente livro “Cavalgar o Tigre”.

            Uomo differenzziato é alguém que permanece no centro da civilização moderna, mas não a aceita no império interior de sua alma heroica. Ele pode usar os meios e armas da modernidade para causar uma ferida mortal ao reino da quantidade e seus golems.

            Eu posso compreender que a situação nos EUA agora é difícil de suportar. É o centro do inferno, mas Hölderlin escreveu que o herói deve lançar-se ao abismo, no coração da noite e assim conquistar a escuridão.

            Algum pensamento que você gostaria de compartilhar como encerramento?

            Estudando na faculdade de filosofia e trabalhando com Platão e o neoplatonismo, eu posso perceber que a política não é nada além da manifestação dos princípios metafísicos básicos que repousam no fundamento do ser.

            Ao fazer a guerra política pela Quarta Teoria Política, nós também estamos estabelecendo a ordem metafísica – manifestando-a no mundo material.

        Nossa batalha não é apenas pelo estado ideal humano – ela é também a guerra santa para o restabelecimento da ontologia correta.


Fonte: Open Revolt

2 comentários:

  1. Enquanto eu concordo com quase tudo que ela falou, o conceito de castas estáticas é algo a ser rejeitando e uma manifestação da degeneração, inclusive em nosso tempo. Todos as grandes culturas tiveram sua origem na grande capacidade das pessoas que a formaram, como explica o historiador das civilizações Arnold Toynbee, não na limitação de castas. A formação de castas na verdade é um indicativo de decadência, quando a elite perde sua capacidade criativa e torna-se corrupta.

    No período moderno, a elite corrupta são os banqueiros sionistas. O incentivo deles, através da cultura materialista, é dividir e enfraquecer a população global para facilitar o seu domínio. Mesmo o movimento proletariado, como Spengler afirmava, trabalha apenas para o fortalecimento do dinheiro e do poder dos bancos.

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  2. Concordo com o texto e concordo com Atila. E nos brasileiros ainda vamos encontrar em nossas raízes a força e as armas para nossa parte na luta.

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