sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Virgo Vestalis: As Sacerdotisas de Vesta



Virgens Vestais eram as sacerdotisas da deusa romana Vesta, a deusa do Lar, sendo estas escolhidas ainda na infância, fazendo parte do sacerdócio por trinta anos. A deusa Vesta era a personificação do fogo sagrado, é a Héstia grega, que por vontade própria, continuou casta e foi muito admirada por outros deuses, como Apolo. Nunca abandona seu lar, Olimpo, evitando também envolver-se em brigas dos deuses ou de mortais e seus juramentos eram os mais sagrados. O asno era o animal mais sagrado à deusa.


Durante o período em que as sacerdotisas serviam à deusa, deveriam preservar a virgindade e castidade, pois eram símbolos de pureza que não poderiam ser atacados e o descumprimento desse veto era uma atitude extremamente repreensível, uma profanação contra os deuses romanos, bem como a sociedade como um todo. A castidade era essencial para a manutenção da sociedade e também para dar continuidade e segurança à Roma, suspendendo por um período de três décadas, à obrigação de casar e ter filhos. Assim, as mulheres romanas gastariam tempo dedicando-se aos estudos e observação correta dos rituais, tornando-se uma poderosa força, com grande influência no estado romano, sendo um dom inviolável.

Os trinta anos dedicados à castidade eram divididos em três partes: 10 anos como estudantes, 10 anos em serviço e 10 como professoras. Depois disso, poderiam se casar, como quisessem. Casamentos com ex-vestais eram muito honrados.

Porém, para ser selecionada ao Colégio Vestal, a menina deveria estar livre de defeitos físicos e mentais, ter os pais vivos e um dos dois deveria ser moradores nascidos em Roma. O Pontifex maximus escolhia cada vestal por "sorteio" a partir de vinte candidatas de 6 à 10 anos de idade. A cerimônia de escolha era conhecida como captio: o pontifex apontava para a menina escolhida, levava-a para longe de seus pais dizendo as palavras: "Eu te recebo, para ser uma sacerdotisa vestal, que irá realizar ritos sagrados, executando-os em nome do povo romano, nas mesmas condições como aquela que já foi uma Vestal". Assim, a escolhida adentrava no tempo de Vesta, estando sob proteção e serviço da Deusa. 

Para a substituição de uma vestal que havia morrido, novas candidatas eram apresentadas para a seleção de outras virtuosas sacerdotisas. Suas tarefas incluíam manutenção do fogo sagrado de Vesta, coleta de água de uma nascente sagrada, preparar alimentos usados em rituais e cuidar de objetos sagrados no santuário do templo. Eram encarregadas também de manter seguro o testamento de várias pessoas, como de César e Marco Antônio, guardavam objetos sagrados, como o Palladium e além de tudo isso, preparavam um tipo especial de farinha para oferecer aos deuses, chamada Mola Salsa¹.

Os privilégios concedidos às vestais eram significativos. Havia um Colégio exclusivo para elas, onde poderiam estudar à vontade. Muitas vezes, ser estudante desse colégio era necessário para participarem de algumas cerimônias públicas; em torneios esportivos e outras performances luxuosas, tinham um lugar reservado; ao contrário da maioria das mulheres romanas, elas não estavam sujeitas ao poder pátrio e assim tinham liberdade de propriedade, testamentos e votos; a palavra das vestais era de confiança, sempre; eram, por conta do caráter incorruptível, encarregadas de testamentos e documentos importantes do estados, como tratados públicos; poderiam libertar prisioneiros e escravos condenados, pois se uma pessoa que foi condenada à morte viu uma vestal em seu caminho de execução, era um bom sinal e o prisioneiro era perdoado e libertado.

Existiam também punições para essas sacerdotisas. Se permitissem que o fogo sagrado de Vesta desaparecesse, sugerindo que a deusa havia retirado sua proteção da cidade era uma ofensa grave e era punida com açoites. A castidade das vestais era considerada como uma relação direta com a saúde do Estado Romano, deixando pra trás a autoridade de seus pais para tornarem-se filhas do estado. Qualquer relação sexual com um cidadão era considerado incesto e um ato de traição. A punição pra esse tipo de violação era ser enterrada viva no Campus Sceleratus (uma câmara subterrânea) por alguns dias, com pouca comida e água. Esta era uma antiga tradição para matar a vestal desobediente sem derramar seu sangue (que era proibido).


No entanto, essa prática contradizia a lei romana, que dizia que nenhuma pessoa poderia ser morta dentro da cidade. Para resolver esse problema, os romanos enterravam a sacerdotisa com mais comida, para prolongar sua punição, dessa forma, tecnicamente, as moças não morreriam na cidade. Casos de prostituição eram raros, porém existiu um: a vestal Tuccia foi acusada de prostituir-se e como punição, deveria carregar água com uma peneira (isso mesmo!) . A prática do sexo por prostitutas acontecia durante um momento de crise política no Estado Romano, sendo que as vestais eram usadas como bodes expiatórios em tempos de grande crise.

A virgindade de uma vestal estava diretamente relacionada com a queima do fogo sagrado, se o fogo fosse exinto, ou uma vestal agiu de forma errada ou tinha apenas negligenciado seus deveres. A decisão final da punição era do Pontifex Maximus², ou do Colégio Pontifício. A Ordem das Virgens já existia há mais de mil anos, porém registros de punições e condenações foram encontrados com datas de muito tempo depois.

A casa das Vestais era uma residência de sacerdotisas, atrás do templo sagrado de Vesta. Do dia 7 até 15 de junho era comemorado o festival das Vestais, onde todas as mães de famílias poderiam ter acesso ao santuário (o que não ocorria em outros dias, sendo restrito às sacerdotisas) levando um prato de comida. As cerimônias eram realizadas com simplicidade, a produção da farinha Mola Salsa era feita com perfeição e a partir dela produziam bolos e tortas salgadas. 

O vestuário das vestais era geralmente branco, feito de lã, para ser usado em rituais. Embaixo, as cores dos tecidos costumavam ser vermelho com fitas brancas, simbolizando o compromisso de manter o fogo de Vesta e seu voto de pureza, respectivamente. Usavam também o palla, pendurando-o no ombro.

Existia, nesse grupo de Vestais, uma chefe que supervisionava as demais e estava sempre presente no Colégio, para ver o esforço vindo de cada uma. A Maxima Vestalium, como era conhecida, foi a mais importante sacerdotisa de Roma. O Colégio Vestal, porém, foi dissolvido e o fogo sagrado extinto no ano de 394, por ordem do imperador cristão Teodósio I.



¹ Mola Salsa: era uma mistura de farinha de trigo branco moída, torrada e salgada preparada pelas virgens vestais;
² Pontifex Maximus: sacerdote supremo do colégio dos sacerdotes, a mais alta dignidade na religião romana.

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